Tanks, Tom, pela indicação do link
A Academia
Brasileira de Letras está prestes a se jogar na mais profunda mediocridade
decadente. Quando foi ‘criada’, no século XIX, pelo mestre, Machado de Assis,
tinha como finalidade aproximar os amantes das letras, da palavra impressa, da
arte literária; pessoas que viviam isoladas, em seus quartos, bibliotecas,
gabinetes, mas que tinham em comum, o livro.
A genialidade
de Machado de Assis trouxe para academia, bem mais tarde, homens como Guimarães
Rosa, gênio que ouviu no sertão, no grotão mais profundo, a alma brasileira
sublimando e retorcendo a língua portuguesa, uma alquimia de pedras, águas,
calangos e cachaça e mais sangue do sertão. Mais Brasil do ‘quê’ isso, livro
nenhum pode ‘destendê’ no varal do senso comum.
Mas voltando à
Academia de Letras, ela abrigou também outro mestre, Carlos Heitor Cony, que na
opinião desse favelado escriba, nunca foi aplaudido o tanto quanto lhe é de
direito. Sufocado pela mediocridade moderna, ‘amplamente’ mergulhada nos
crepúsculos da vida, nos pálidos tons de cinza, nos artigos da Veja, nas
novelas e BBB globais, Cony, hoje, está aprisionado numa coluna da Folha de SP.
Pelos comentários que escrevem sobre seus textos, sinceramente, são ‘leitores’
dignos de pena. Ninguém mais entende a ironia, a fineza e o domínio dos
Clássicos, mais as analogias e contextualizações criadas em relação a eles.
Lamentável modernidade digitalizada, além de superficial, analfabeta de símbolos
e metáforas.
Fico
imaginando Cony ao lado de Ariano Suassuna, outro capturado pela ABL, que de
tanto amar o Brasil, criou uma literatura que vai além do humano e roga aos
céus que se compadeçam de nós e que, além disso, fundou a Pedra do Reino, de
onde Dom Sebastião irá nascer quando voltar da batalha do Alcácer-Quibir e fundar
um reino no sertão nordestino do Brasil. Suassuna e Cony: Deus e o Diabo na
terra da Academia Brasileira de Letras.
Mas, nesses
últimos anos, o Senhor dos Anéis saiu da tumba com seus Orcs e invadiu a ABL, e
os dias de sol, a primavera, o ar puro e a água cristalina da literatura se
perderam pra sempre. O primeiro espectro das trevas a invadir o Condado do
Bruxo do Cosme Velho, foi Roberto Campos, (já desencarnado) ex-ministro do planejamento da
ditadura militar, entusiasta do capitalismo, entreguista e nada poético.
O segundo
espectro invasor da ABL se chama Sarney, que dispensa explicações históricas para seu
pacto com as trevas. O terceiro ser do negrume a tomar uma cadeira imortal pra si, atende pelo nome de Merval Pereira, sabujo jornalista global, que até onde
se sabe, nunca escreveu outra coisa senão seus patéticos artigos no O Globo, com
a finalidade única de enaltecer os EUA e criticar governos populares da América
do Sul. Deveria ser imortal na Academia de Washington.
Até então, a
sinfonia de morte da ABL parecia em seu limite. Mas quando algo pode piorar, se
deteriorar ainda mais, eis o toque de requinte, a ‘estrelinha’ final que vai
sobre o bolo de estrume: FHC é candidato a uma vaga na ABL.
Lamentável?!
Sim, e muito. O princípio da ABL é o amor à escrita, seu sentido, significado e
imortalidade, além da importância social que é o exercício de uma língua viva e
autêntica. Um escritor escreve (pensa) porque acredita, primeiramnte, em sua
escrita, — pois afinal quer ser lido — e pelo desejo de tornar o mundo um lugar
melhor. Mas ‘nosso’ sociólogo, aspirante
à imortalidade, com seus artigos clonados da obra de Max Weber, dono da frase,
“ESQUEÇAM O QUE EU ESCREVI!”, agora quer ser lido, entendido, repaginado,
perdoado.
Claro, todo
ser humano é digno de perdão, por isso posso perdoar FHC por ter chamado os
aposentados do Brasil de vagabundos. Digo isso em função dos primeiros semestres de minha faculdade que foram pagos pelas aposentadorias da tia e da mãe, um lugar onde professores pediam
para que lêssemos artigos de FHC, entre outras coisas. Ironia?!
Era um Brasil
estranho: na tela da Globo ele chamava aposentados de vagabundos, mas eram eles
que me pagavam o estudo — o desemprego da ‘era’ FHC era altíssimo e meus
problemas não eram exclusivos, mas sim de toda uma geração. A 'renda' dos aposentados, à época, impulsionou o futuro de muito gente: filhos, sobrinhos, afilhados, netos e etc.
Dessa forma, havia, em meus estudos, textos escritos por ele, FHC, e que deveriam fazer parte de
minha formação profissional, mas que segundo o autor, deveríamos esquecer em
benefício da tragédia que era o seu ‘governo’. Quanta 'coerência' num sociólogo/‘escritor’, aspirante à imortalidade. Digamos que ele deseja, no momento,
tornar a mediocridade imortal. Será que tem perdão, em se tratando de Literatura?