quinta-feira, 25 de abril de 2013

Aprendiz de feiticeiro


Usei um track de blues em lá maior, espécie de karaokê para guitarras e fiz um solo. 

Após os 2:09 minutos o aprendiz revela quem é o mestre que ele tenta seguir, rs.  

Para o Bruce, A&V, Guatambú, Tom do Galos, Brun'ocha e viajantes mais...   

obs: para melhor ouvir, dependendo do seu som, abaixe grave e o volume geral um poquinho...vlw


ps: Cláudia um beijo, vlw a paciência..

terça-feira, 23 de abril de 2013

O sonho




A cidade das Incertezas fica entre o umbral e as cidades luminosas. Habitadas por seres que não foram tão maus assim, mas que ainda não se abriram em definitivo ao amor, causa incondicional da existência. Às vezes o mundo dos sonhos nos leva à cidade das Incertezas, e assim ocorreu comigo, noite dessas.
É um lugar onde sempre é noite estrelada de sexta-feira. As pessoas andam sem rumo e usam roupas de cores escuras; não vi ninguém de roupa negra. Levou um tempo para que eu pudesse entender onde estava. De repente, duas mulheres me deram as mãos, disseram que estava tudo bem, que eu não tivesse medo. Depois começamos a falar de arte; Quadros. Para ser mais preciso.
Eu falava sobre Salvador Dali, quando apareceu um incêndio. Um imenso galpão devorado pelo fogo. Me estranhei com a ideia de ver concreto, vidro e ferragens em chamas, mas depois me explicaram que o fogo era de uma outra ordem. Ele calcinava as ilusões. Fiquei mais assustado ainda, quando percebi que o incêndio ocorria numa igreja evangélica em construção. E que, naquele exato instante, ao pó retornava. 
          Na cidade das Incertezas, quase todos os espíritos tentavam, freneticamente, re-construir aquilo que faziam na Terra, antes da visita da morte sobre a carne. Como crianças construindo castelos de areia, efêmeros, mas com aspirações de eternidades, e que são levados pela água do mar, numa fantástica demonstração de efemeridade, naquela cidade, era o fogo quem não permitia que as pesoas continuassem seus apegos às ilusões terrenas.     
Eu vi também uma catedral em chamas, uma universidade, um imenso shopping-center e vários bancos tragados pelas chamas da incerteza. Pobres infelizes, um dia iriam despertar para o outro caminho, o próximo passo para uma evolução inevitável. Cinemas, teatros, bibliotecas e botecos permaneciam mais tempo sobre seus alicerces. Mas de tempos em tempos, eram pulverizados. A cremação é uviversal..
Caminhei a esmo pela cidade. Não havia frio e nem calor o suficiente para o desconforto. Algumas casas são desabitadas. Pode-se entrar nelas, mas há tanta solidão nos retratos em preto e branco expostos nas paredes rachadas, que se torna impossível habitá-las por alguns minutos. Dessa forma, adotei um banco de praça como cama.
       Dormir dentro de um sonho é tarefa de risco incalculável. Mas assim o fiz. Acordei com o barulho dos passos de um homem. Mala nas mãos, terno branco, parou diante de mim e disse adeus. Me levantei e olhei em seu rosto. Tinha um bigodinho igual ao do Cony. Disse: “...quando de repente a roupa se torna branca, é o sinal para partir. O trem me espera na estação”. Se foi.
Perdi o sono e resolvi andar um pouco. Porém, de forma asustadora, me deparei com uma jornada de cristãos. Cruzes douradas, estandartes de papas, fotos de pastores, terços, santos, ídolos, um aglomerado de gente que se arrastava em desespero. Pensei que eles iriam me matar, tamanho o fanatatismo que escorria dos olhares. Eram como zumbis em trapos, a imagem e semelhança dos habitantes das cracolândias. A tenebrosa visão daquela condição humana me fez sentir pena. A humanidade precisava ir além daquilo que a fazia se arrastar de maneira tão deprimente. Eu não conseguia entender, menos ainda explicar a eles, como a mente humana, ao longo dos tempos, havia se submetido a algo tão primário. Pros cristãos, inflizmente, a noite seria longa, muito longa.
Me afastei dos zumbis, procurei lugares ermos, mas a cidade nunca acabava. Fora projetada para recair sobre si mesma. Mas encontrei uma rua com mesas na calçada; vários bares à luz de velas. Dois lampiões iluminavam a rua. Senti um conforto, aquela atmosfera não me era estranha.
Fui na direção de uma mesa, onde um senhor rodeado de pessoas, com seu terno quase branco, cor de areia, acolhia as pessoas com simpatia e fraternidade. Entendi que ele estava prestes a partir. Pedi licença, puxei uma cadeira e me juntei a eles. Serviram-me um copo de cerveja e antes mesmo de perguntarem pelo meu nome. Entendi que isso era um tipo de amor. Na sequência do brinde cevado, o homem de terno cor de areia tirou um violão da sombra. E o fez assim, como quem enfia a mão numa caixa mágica e faz um gesto Houdini.
O violão parecia de papelão, leve como devem ser os espíritos santificados pela lua, pela cachaça e pela música. O soar do primeiro acorde me arrepiou a alma. Era um lá menor. A voz era fraca, mas afinada. Sincera. Tomou o mundo: “...Bate outra vez, com esperanças o meu coração...”. Tomei outro gole e entendi que o mundo todo só teria significado se eu pudesse, ali mesmo, segurar nas mãos da mulher que eu amara a vida toda. Mesmo que eu jamais viesse a saber o que significava a vida, quanto mais ainda, todo seu desenrolar.
             Depois me disseram que o nome daquele homem era João Eclesiastes.                           

quarta-feira, 10 de abril de 2013

E faça-se o penico!



Sim, o pastor Feliciano transformou nossos ouvidos em penicos. Nunca imaginei que tanta besteira pudesse sair de uma só boca. Menos ainda, que tanto dinheiro pudesse sair das carteiras de seus seguidores, que nas filmagens de seus cultos, postados no you tube, aparecem embasbacados, em terno e gravata, e lhe entregam o suor do trabalho enquanto berram, “...aleluia! Eis meu Jesus!”
Eu já disse que quando o pregador, católico ou protestante, tem uma formação teológica limitada, quem paga o pato é Deus, que segundo interpretações bizarras, na busca da fé através do medo e não do amor, se transforma em assassino, chantagista e, também ao que parece, num racista. 
Segundo o pastor Feliciano, Deus matou John Lennon com três tiros. Um pelo pai, outro pelo filho e o último pelo espírito santo. Como todo assassino volta à cena do crime, Deus pode ser visto às portas do edifício Dakota, em NY, local onde o corpo de Lennon foi alvejado. Pior, se o pastor sabia quem era o assassino de Lennon, pois o mesmo havia lhe dito aos ouvidos à época, isso o torna um cúmplice. Detalhe: o cúmplice também cumpre pena por assassinato. Sim, entramos nas raias do absurdo, mas isso não é minha culpa.
Mas se você não pode ir à NY para se encontrar com Deus às portas do prédio Dakota, por questões de grana, vá até a serra da Cantareira, onde o avião dos Mamonas Assassinas foi destruído, propositalmente, segundo Feliciano, e pelas mãos de Deus. Segundo o próprio pastor, também esse ‘assassinato’ (acidente, a meu ver) lhe foi pronunciado aos ouvidos, e pelo próprio criador. No mundo encantado do Feliciano, Deus tem um caráter abaixo da linha de um George Bush. É mole?
Porém o pior estava por vir: segundo pastor Feliciano, os negros são uma etnia amaldiçoada. Como parte de meus ancestrais, — e ao que parece, também de 90% da população do Brasil—, vem de elementos de origem italo-afro-luso-tupiniquim, também sou amaldiçoado. Fico pensando em Pelé, amaldiçoado, mas que foi o rei do futebol. Martin Luther King, amaldiçoado, mas que lutou, na América, pelos direitos humanos. Ray Charles, amaldiçoado e cego, mas que deu formato à música ocidental. Jimmy Hendrix, amaldiçoado, ‘inventou’ a guitarra elétrica. Machado de Assis, amaldiçoado, e maior escritor brasileiro. A conclusão é instantânea: será que Deus vai matar o Pelé? Pior: Joaquim Barbosa corre perigo?
Se engana quem pensa que desejo o afastamento do pastor Feliciano da presidência da CCJ dos Direitos Humanos, na Câmara dos Deputados. Quero é que ele permaneça e propague os absurdos que carrega dentro da cabeça, para que fique cada vez mais óbvio o quanto é nociva a ideologia conservadora de extrema-direita, que suscita o ódio e a possibilidade de violência, onde antes havia a convivência pacífica e o pluralismo. Quem coloca os intestinos no lugar do cérebro, inevitavelmente, transformará suas palavras em excrementos. Quem sofre são nossos ouvidos.
Talvez o sonho de Feliciano seja se tornar um novo patriarca, aquele que entrará triunfante na Nova Jerusalém, pisando sobre os corpos mortos de todos os amaldiçoados, puxando a mulher pelo cabresto, — aleluia à misoginia! — e nas costas da pobre, vai um jegue montado. No mundo ‘feliciano’, o pensamento quadrúpede está acima dos Direitos Humanos.    
Pobre Feliciano, não sabe que Lennon e outros homens, assassinados por suas ideias, passaram a viver muito mais sem seus corpos, do que se tivessem atravessado a vida como homens comuns. No caso específico de Lennon, sua música se tornou universal e sua face eternamente jovem. Dessa forma, meu caro Feliciano, diga a seu fascínora de plantão, que o tirou saiu pela culatra: há mais Lennon com a ausência de seu corpo, do que se ainda estivesse entre nós, velho e de cabelo branco. E aproveita para dar uma chance à paz. Abraços fraternos.        
           
                  

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Esqueçam o que eu escrevi!


Tanks, Tom, pela indicação do link

A Academia Brasileira de Letras está prestes a se jogar na mais profunda mediocridade decadente. Quando foi ‘criada’, no século XIX, pelo mestre, Machado de Assis, tinha como finalidade aproximar os amantes das letras, da palavra impressa, da arte literária; pessoas que viviam isoladas, em seus quartos, bibliotecas, gabinetes, mas que tinham em comum, o livro.
A genialidade de Machado de Assis trouxe para academia, bem mais tarde, homens como Guimarães Rosa, gênio que ouviu no sertão, no grotão mais profundo, a alma brasileira sublimando e retorcendo a língua portuguesa, uma alquimia de pedras, águas, calangos e cachaça e mais sangue do sertão. Mais Brasil do ‘quê’ isso, livro nenhum pode ‘destendê’ no varal do senso comum.
Mas voltando à Academia de Letras, ela abrigou também outro mestre, Carlos Heitor Cony, que na opinião desse favelado escriba, nunca foi aplaudido o tanto quanto lhe é de direito. Sufocado pela mediocridade moderna, ‘amplamente’ mergulhada nos crepúsculos da vida, nos pálidos tons de cinza, nos artigos da Veja, nas novelas e BBB globais, Cony, hoje, está aprisionado numa coluna da Folha de SP. Pelos comentários que escrevem sobre seus textos, sinceramente, são ‘leitores’ dignos de pena. Ninguém mais entende a ironia, a fineza e o domínio dos Clássicos, mais as analogias e contextualizações criadas em relação a eles. Lamentável modernidade digitalizada, além de superficial, analfabeta de símbolos e metáforas.
Fico imaginando Cony ao lado de Ariano Suassuna, outro capturado pela ABL, que de tanto amar o Brasil, criou uma literatura que vai além do humano e roga aos céus que se compadeçam de nós e que, além disso, fundou a Pedra do Reino, de onde Dom Sebastião irá nascer quando voltar da batalha do Alcácer-Quibir e fundar um reino no sertão nordestino do Brasil. Suassuna e Cony: Deus e o Diabo na terra da Academia Brasileira de Letras.
Mas, nesses últimos anos, o Senhor dos Anéis saiu da tumba com seus Orcs e invadiu a ABL, e os dias de sol, a primavera, o ar puro e a água cristalina da literatura se perderam pra sempre. O primeiro espectro das trevas a invadir o Condado do Bruxo do Cosme Velho, foi Roberto Campos, (já desencarnado) ex-ministro do planejamento da ditadura militar, entusiasta do capitalismo, entreguista e nada poético.
O segundo espectro invasor da ABL se chama Sarney, que dispensa explicações históricas para seu pacto com as trevas. O terceiro ser do negrume a tomar uma cadeira imortal pra si, atende pelo nome de Merval Pereira, sabujo jornalista global, que até onde se sabe, nunca escreveu outra coisa senão seus patéticos artigos no O Globo, com a finalidade única de enaltecer os EUA e criticar governos populares da América do Sul. Deveria ser imortal na Academia de Washington.   
Até então, a sinfonia de morte da ABL parecia em seu limite. Mas quando algo pode piorar, se deteriorar ainda mais, eis o toque de requinte, a ‘estrelinha’ final que vai sobre o bolo de estrume: FHC é candidato a uma vaga na ABL.
Lamentável?! Sim, e muito. O princípio da ABL é o amor à escrita, seu sentido, significado e imortalidade, além da importância social que é o exercício de uma língua viva e autêntica. Um escritor escreve (pensa) porque acredita, primeiramnte, em sua escrita, — pois afinal quer ser lido — e pelo desejo de tornar o mundo um lugar melhor.  Mas ‘nosso’ sociólogo, aspirante à imortalidade, com seus artigos clonados da obra de Max Weber, dono da frase, “ESQUEÇAM O QUE EU ESCREVI!”, agora quer ser lido, entendido, repaginado, perdoado.
Claro, todo ser humano é digno de perdão, por isso posso perdoar FHC por ter chamado os aposentados do Brasil de vagabundos. Digo isso em função dos primeiros semestres de minha faculdade que foram pagos pelas aposentadorias da tia e da mãe, um lugar onde professores pediam para que lêssemos artigos de FHC, entre outras coisas. Ironia?!
Era um Brasil estranho: na tela da Globo ele chamava aposentados de vagabundos, mas eram eles que me pagavam o estudo — o desemprego da ‘era’ FHC era altíssimo e meus problemas não eram exclusivos, mas sim de toda uma geração. A 'renda' dos aposentados, à época, impulsionou o futuro de muito gente: filhos, sobrinhos, afilhados, netos e etc.   
Dessa forma, havia, em meus estudos, textos escritos por ele, FHC, e que deveriam fazer parte de minha formação profissional, mas que segundo o autor, deveríamos esquecer em benefício da tragédia que era o seu ‘governo’. Quanta 'coerência' num sociólogo/‘escritor’, aspirante à imortalidade. Digamos que ele deseja, no momento, tornar a mediocridade imortal. Será que tem perdão, em se tratando de Literatura?