sexta-feira, 31 de maio de 2013

A porta fechada

“...prefiro a porta aberta ou definitivamente fechada!”. Todo raciocínio binário nos leva a micro tragédias. Ou tudo é somente o sol, ou uma noite escura profunda. O crepúsculo, um naco de tempo que não é dia nem noite, me seduz profundamente. Representa a porta semi aberta por onde o corpo pode esgueirar-se como numa dança: são dois pra lá, dois pra cá.
Eu jamais mataria dez coelhos, - as lembranças -, com uma só cajadada. Nem guardaria seus cadáveres numa gaveta, para esquecer que existiram. Dez coelhos me levariam para dez Países das Maravilhas simultâneos. Delírios nos olhos de Alice como nas explosões de luzes da Broadway. E a lua crescente estampada no céu, tal como o sorriso do gato Cherrie, seria o convite para livrar a princesa de sua masmorra.
O espaço-tempo não pode cegar os olhos da alma, do coração. Isaac B. Singer me ensinou isso. Não se esquece o que se sente. A alma vê sem olhos. As almas vêm de um mundo distante, com a memória nublada, mergulham nos corpos e brotam pelos ventres, que são os túmulos pra se nascer na morte. — O que chamamos de vida, as almas chamam de morte; os ventres são portais por onde se morre em direção à Terra. Por isso choramos ao nascer (morrer).  
E quando passam a caminhar sobre a terra, as almas sabem que a porta entre a fonte de sua origem e a terra estará sempre ‘semi aberta’. A luz passa pelas frestas, inexatas, não binárias, não céticas. Não há fé na razão que possa apagar as pegadas na névoa da manhã, que adentra nossas casas e traz a lembrança de outra alma, — que não é lembrança—, mas a própria existência. Amalgamadas pela memória imemorial, as almas não se esquecem, não podem, não sabem fazer isso. Sentem, a todo tempo, que já se conheciam por toda essa vida (morte) no corpo, naquele pequeno instante dejá-vú: “Eu já vi está cena, esse rosto, e eu já ouvi esta voz!”.
Tudo isso é memória. Nada é novo sobre a terra: o blues do umbigo, o túmulo de olhos castanhos, o casamento na música de Marcelo Jeneci, o sim e o não: “...sim, eu desejo, mas não sei como alcançar o desejo!”. Nada é novo sob o sol de nossos dias: a fúria, a frustração, a fuga, as respostas que nunca aparecem, o álcool que desinibe e liberta as palavras que já moram no coração há milhares de anos. Até o adeus, em italiano, ‘tchau’, é também ‘olá, como vai?’, e é também, ‘eu já vou!’, por que nunca chegamos e nunca partimos.
Dean Moryarty disse pra Sal Paradaise (Jack Kerouac), nas páginas do livro, On the Road: “...ei, Sal! Certa vez fui esquecido por meu pai dentro de um vagão de carga pra NY. Foi na parada, quando os vagabundos desciam pra mijar, o trem voltou a andar e meu pai pegou outro vagão. Fiquei sozinho, cercado de estranhos, eu tinha 7 anos. Mas eu sabia que meu pai estava ali pra trás, uns três ou quatro vagões depois do meu. Esperei, e em NY eu o abracei de novo. Na realidade, sempre estivemos juntos no mesmo trem, apesar de meus olhos de menino não vê-lo em carne e osso. Isso é a vida, Sal! É assim que estamos mergulhados nela, nunca nos separamos.”   
O capítulo final da história do On the Road é uma viagem dionisíaca pro México. Dean Moryarty deixa seu amigo, Sal Paradaise, adoentado numa cama, depois de bebedeiras, orgias, chapações e volta pra Denver. Pra quem lê, ou assiste ao filme, fica um engasgo no peito, uma ponta de decepção: um amigo abandona o outro, assim, na doença. Mas pra quem conhece a alma da estrada, sabe que os dois sempre estarão juntos, porque nunca estiveram separados: antes, durante e depois.
Por isso, meu caro leitor, por mais que você queira fechar a porta pra esquecer alguém no México, isso não será possível. Sal Paradaise e Dean Moryarty estarão sempre juntos. Sal não foi esquecido, a estrada é um sopro contínuo que mantém a humanidade  ligada, tal como os anjos (almas) de Singer, que caem na Terra e não sabem o que fazer com essa sensação de que sempre estiveram ligados a pessoas que vieram a conhecer aqui, com os pés sobre o chão. 

                                          

terça-feira, 21 de maio de 2013

Rede $ustentabilidade e outras patetices



Charge do Paixão, indicação, Tom Vital (auuuuuuu!)

Segundo Marina Silva, sua ‘Rede’ não é um partido, não é de oposição, menos ainda de situação. É um aglomerado de pessoas ‘com idéias novas’ na luta pelo o acesso ao mesmo poder de sempre. A mim sugere uma espécie de ereção flácida, ou ejaculação a seco. Enfim, um projeto que é definido como algo que é, e que ao mesmo tempo, não é. Mas que é financiado pelo Itaú e Natura, empresas do bom e velho capitalismo predador. Talvez seja esse o tipo de partido de ‘mentirinha’ a que se referiu o presidente do STF, Joaquim Barbosa Privada de Ouro, que atualmente parece mais um Senador do que um Ministro do STF.
Da mesma maneira que Joca Barbosa — se suas privadas custaram 90 mil, imagine seus penicos — demonstra, constantemente, que não sabe o que se passa ao seu redor, ao confundir Legislativo com Judiciário, característica de quem não estudou ao longo da vida, Marina Silva está ‘a confundir’ facebook com legenda partidária. Um erro permitido numa República Democrática, afinal a liberdade de expressão é um dos nossos pilares. Mas um erro crasso, em se tratando de Ciência Política, pois um partido que não é um partido, sugere que estamos no velório da inteligência. Fico imaginando, na visão de Marina Silva, um eleitor que não é um eleitor, ou uma eleição que não é uma disputa.
A permanência de Marina Silva sobre o muro, de maneira quase que infinita, pode desencadear um processo por parte do Pink Floyd. Pois a utilização indevida de parte de sua obra, o The Wall, resvala na questão dos direitos autorais. Apesar do ‘muro’ dos gringos psicodélicos ter outra conotação política, no ideário popular, muro é muro! E ta lá em cima do muro político, com seu estandarte que não é um estandarte, Marina Silva.
E que o mais me assusta é que, Joca Barbosa W.C. Golden Plus, também pode vir a ser processado pelo Pink Floyd. Ao contrário de Marina Silva, Joca Barbosa não está em cima do muro, mas sim vem construindo um ao redor dos ‘Três Poderes’, que poderá resultar no atrito entre os mesmos e na instabilidade democrática.
Chega a ser patético um Ministro do STF, afro-descendente, agindo da mesma maneira que o partido nazista, nos anos de 1930, na Alemanha de Hitler, declarando guerra ao Legislativo, símbolo maior da liberdade, da diversidade política (cultural) e guardião definitivo da liberdade de expressão.
Se você não é capaz de entender a relação legislativo-executivo, tal como Joca Barbosa, no sistema presidencialista de coalisão da América, assista ao filme, Lincoln, onde o então presidente dos EUA, em 1861, comprou parte do Congresso americano para que ocorresse a abolição da escravatura. Pra isso contratou, clandestinamente, três Delúbios Soares, responsáveis pela distribuição de dinheiro, cargos e outros favores em troca dos votos de alguns congressistas. Ou seja, se não fosse o ‘mensalão’ do Lincoln, até hoje nossos irmãos afro-americanos seriam escravos, ou algo muito próximo disso, nos EUA. Conclusão: só se derruba o conservadorismo com dinheiro e não com idealismo.
Não sei se é fofoca, mas me disseram que quando Joca Barbosa assistiu ao filme, Lincoln, ficou indignado com a compra de votos no Congresso americano. Levantou-se e quis dar voz de prisão ao presidente exposto na tela. Ainda bem que Vossa Magnificência não estava só, um de seus Aspones do STF o alertou para o perigo de uma voz de prisão ao Linconl, ali no cinema:
— Santidade, se o senhor prender o Lincoln, os negros continuarão como escravos.
Joca Barbosa, pego de surpresa, parou com as algemas nas mãos e disse:
— Hã?! Não entendi!! 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Windows 95




O antigo testamento e seus dez mandamentos são como o windows 95: uma programação que já não é mais compatível com o hardware, o corpo humano, da pós-modernidade. Tenho todo respeito aos judeus, até penso que após ler Isaac B. Singer, passei a me considerar mais próximo dos judeus do que dos cristãos, em termos morais e éticos. Eu não sabia disso, desconhecia esse fato sobre mim mesmo. A literatura tem esse poder, faz com que conheçamos a nós mesmos um pouco mais, e de maneira clara e efetiva.
Os filhos de Judá, os judeus, surgiram na Mesopotâmia por volta de 2.000 a.c., portanto há 4.013 anos. Tempinho bom. Viviam em tribos e em eterna peregrinação. Criaram uma mitologia fortíssima, que deu substância e unidade aos seus. Mas imagine como se controlava um bando de guerreiros unidos, um bando de machos na ponta dos cascos, atravessando desertos e lugares ermos. Claro, só um poderoso código de ética poderia segurar e manter a unidade dos judás. E mais: quem tinha o direito à criação de códigos éticos? Lógico, somente um ser perfeito, um ancião que vivia nas nuvens e que havia escolhido os judás como ‘seu’ povo preferido. A fábula colou, mas não sem deixar um rastro de desconfianças e críticas.
“Não desejar a mulher do próximo!”. É mais do que claro que quando você é um líder, como era Moises, e precisa manter a ordem entre machos-alfas para evitar que os guerreiros lutem entre si, e isso venha a implodir sua capacidade bélica para conquistar a ‘terra prometida’. Assim se tornou inevitável a 'exclusão dos motivos' do ciúme. É que nesse caso, o adultério poderia desmoronar os objetivos das tribos de Israel. Hoje não corremos esse risco, adultérios não podem destruir as nações. Os tempos mudaram.
O mesmo se aplica aos outros mandamentos: “honrar pai e mãe”. Claro, não se podia abandoná-los no deserto. “Amar a Deus sobre todas as coisas!”, mais evidente ainda: a Mesopotâmia era um lugar abarrotado de povos politeístas, qualquer coisa mais luminosa poderia enfeitiçar os filhos de Judá. Ex: um bezerro de ouro. Já o "...não roubar!", concordo, ainda tem validade pós-moderna e talvez seja bem mais velho do que os judeus.
Mas o que quero dizer, em linhas gerais, é que, querer usar os 10 mandamentos, ao pé da letra, para organizar a vida nos dias de hoje é uma proposta estapafúrdia. Valores de 4.000 anos atrás, creio eu, já caducaram. Somente néscios acreditariam num treco desses. Mas enquanto se é possível ganhar dinheiro com isso, em pregações judaico-cristãs ‘extremamente éticas’, segue o circo de horrores. A ignorância está em quem quer ouvir e a malandragem é de quem quer propagar essas ‘verdades’, tal como um veículo portador exclusivo da patente.
Cristo, em si mesmo, foi uma negação ao universo dos judás. Ele dizia que não havia nada nos templos judaicos, que a palavra, até então, sagrada, de pouco valia; que os rituais eram uma perda de tempo; que era das crianças o então reino dos céus. (Cristo negou o judaismo, assim como Nietzsche o cristianismo)
Porém, os seguidores do Cristo foram na contramão de seus próprios ensinamentos e criaram um neo-judaismo teologicamente mais pobre: criaram templos, rituais patéticos, falso moralismo, enalteceram ídolos, aboliram a felicidade do corpo, declararam os desejos carnais pecaminosos e enalteceram os sentimentos humanos mais degradantes: regozijo pela humilhação, paixão pela culpa, amor à fraqueza e  beatificação da impotência. Dá pra acreditar que há algo sagrado dentro de um templo cristão, seja ele católico e ou protestante? 
E aliás, a emenda soou pior do que o soneto, no transcorrer da história: o cristianismo/judaísmo e o capitalismo são inconciliáveis. Não se pode ser judeu-cristão num sistema de especulação e coisificação do homem. É a mais profunda hipocrisia dizer-se o sal da terra e a luz do mundo se não se faz uma revolução; se se permite que especuladores, banqueiros, políticos, papas, pastores e derivados determinem a ordem do mundo, e tudo para proveito próprio desses mesmos ‘seres angelicais’.
Liberte-se: o Vaticano e os templos protestantes estão mais para uma Disneylândia desvairada do que algo essencialmente ético e moralmente correto. Pô, não é que o Feliciano fica bem de Pateta e o Chico I é a cara do Mickey?                       


terça-feira, 7 de maio de 2013

A ‘cura’




O deputado e pastor ‘In-feliciano’, do PSC, vai propor a cura gay através de um projeto de lei. O problema é que o inusitado projeto abre brechas para novas curas. Dessa forma, o corinthianismo, o tucanismo, para muitos, até o petismo, estariam com seus dias contados. E tudo graças a projetos de lei que venham propor a cura para tais patologias. Simples assim, e tudo será resolvido.
O problema é que a lista de patologias a serem curadas por projetos de lei passará a ser, tecnicamente, algo próximo do infinito. Alguns irão propor o fim do ‘Sertanojo Universotário’. Outros, um remédio contra o samba. Uma vacina anti-axé não seria algo a se deixar de lado. Bem, em termos culturais, a lista é longa.
Exterminadas as patologias culturais, graças aos eficientes projetos de lei by ‘In-feliciano’, estarão por vir as curas étnicas. A negritude terá um antídoto clareador; o elemento indígena será ‘curado’ de nosso DNA e graças a técnicas apuradas da biotecnologia. Enfim, um xarope contra o lesbianismo terá propaganda maciça.
Chegará então o dia que o cristianismo será considerado, também, uma doença. Diga-se de passagem, o diagnóstico não é novo, vem do século XIX. O filósofo Nietzsche, filho de pastor, dizia que a doutrina cristã era uma degenerescência fisiológica, a popular dor de barriga.
Pobre ‘In-feliciano’, vítima de sua própria arma de propagar fobias. Considerado também uma doença, ou aceita a cura ou é exterminado da sociedade que ajudou a criar. Mas ainda há salvação no mundo. Deputados ainda não contaminados pelo creme usado por ‘In-feliciano’ para fazer chapinha, poderão exibir o filme, Yellow Submarine, dos Beatles, e todos chegarão à conclusão de que o preconceito, sim, é algo doentio. E que as várias formas de amor entre cidadãos responsáveis, inexoravelmente, serão respeitadas como algo meramente humano, ‘demasiadamente humano’.
Eu sou Flamengo! Sou Negão!!