quarta-feira, 3 de julho de 2013

Eu protesto!


Não é que o brasileiro não se ligava em protestos, é que ele não sabia que podia praticá-los livremente. Pensava que toda manifestação resultasse numa chuva de balas de borracha, em meio a uma nuvem de gás lacrimogêneo, bem temperada com o mais eficiente dos cassetetes.
Quantas greves de professores, até mesmo da polícia civil do Est. de SP, ao longo desses anos, não foram temperadas pela equação: a) governos estaduais fechados ao diálogo, mas pronto para distribuir pauladas. b) o povo, em geral, chamando os grevistas de vagabundos. c) a mídia com os microfones fechados aos grevistas, fazendo análises das imagens contra as greves. Resultado: A + B + C = ‘visão política’ do cidadão paulista e do brasileiro em geral.
Do submundo da proibição moral, sinônimo de baderna, os protestos migraram para a ‘praça da normalidade’. Na Grécia antiga, século V a.c., chamavam a isso de Democracia. E só podia ser chamada de Democracia se fosse na praça, conhecida como Ágora. — Os vândalos de hoje ainda não entenderam que, suas atitudes favorecem ao discurso dos reacionários ao movimento de politização. Quebrar a vidraça de um banco, com seus caixas-eletrônicos, não significa nada, o seguro paga. Equivale querer destruir um país inimigo queimando-lhe a foto.
Destruir o sistema bancário, o Estado de direito, a ordem democrática, para que esse caos, finalmente, destrua o capitalismo, corresponde a uma grande ignorância. Precisamos de um espaço institucional para que possamos satisfazer nossos desejos. E devemos entender que a saciação desses desejos, numa sociedade capitalista, corresponde à diminuição de poder e da riqueza da elite econômica.
Exemplos: querer a redução das taxas de pedágio, desejar passe livre para o transporte coletivo, pagar menos impostos e o que mais se pensar, corresponde à redução dos lucros das empresas que administram os setores. O serviço é controlado por contratos (licitações) que, normalmente, ‘não podem ser alterados’ porque a jurisprudência estatal trabalha a favor do lucro da empresa, para ‘viabilidade do serviço prestado’.
Por isso a mídia, sempre diante de uma contestação, convoca juristas que são especialistas em dizer que, o povo e seus anseios, na maioria das vezes, são ‘inconstitucionais’. Não têm a menor vergonha de propagar que, o lucro é constitucional, o manifestante, não!  E deveria ser o exatamente o contrário. Mas é papel da mídia fazer você entender que, “a vida é assim, o que mamãe falou não vale nada!”, como já disseram os The Fevers.  
A polifonia de gritos, ansiosos pela satisfação, deve ser a base da constituição, não o oposto. Para isso serve o Estado, e mais a gama de empresas que ele contrata para retribuir, em serviços, a riqueza gerada pelas classes sociais que desejam e produzem constantemente. A grande maioria produz, sonha e sacia poucos de suas aspirações; uma pequena parte da sociedade pouco produz e sacia quase a totalidade de seus desejos.
Encontramos o calcanhar de Aquiles dos anseios das manifestações: a redução da margem dos lucros das empresas que prestam serviços para o Estado (municipal, estadual e federal). Essa redução é vital para o alcance da qualidade de vida almejada pelo indivíduo inserido nos protestos. É ela quem vai permitir ao usuário do sistema de transporte, por exemplo, viajar sentado, num ônibus de ar condicionado e com locais adequados para embarque e desembarque. Vide outros serviços e pense o mesmo.
Crescemos, como país, com uma corrupção que se fazia sobre os cofres estatais. Com a digitalização das contas públicas e da ampliação da fiscalização, por vários setores do próprio Estado, a corrupção se deslocou para a relação entre o Estado contratante e as empresas vencedoras das licitações. 
        Solução: financiamento público de campanha. Quem é contra, lógico, vai deixar de ganhar algum e a mídia nunca vai mostrar isso pra você. Menos ainda, qual seria a margem de lucro mais justa para se construir um país. Se é que isso é possível. 

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