terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Espetáculo de Camila Vallejo



O espetáculo que nos devora em nosso 'ilhamento' social, exala por todos os poros. Alìcio, do chora o guatambú (vide em links deste blog), em suas postagens temperadas pela luta de todos os companheiros, nos trouxe Camilla Vallejo, líder estudantil chilena, que bela, mui bela, poderia estar nas capas das revistas, ou com o celular no decote, tal como a musa da seleção de futebol do Paraguai, Larissa Riquelme, mas pelo contrário, anda a proliferar petardos espetaculares no Estado chinelo e sua inépcia educacional; pleoanasmo para quase todo governo da América do Sul, em se tratando de educação.

Me peguei a pensar com meus guatambús sobre o que era O Capital, do velho e não menos essencial, Karl Marx. Um manual que determina todo seu funcionamento, que deixa claro que somos explorados e não o percebemos, não na profundidade em que ocorre, mas que nos é óbvio, basta olharmos no espelho, abrir a dispensa, passar no supermercado, ou olhar a opulência dos poderosos.

Mas me atento à questão de Debord: brigar com um Estado, se ele deve ou não financiar a educação, não é só uma parte de um espetáculo? Sei que estudar sem mensalidades é bem melhor do que pagar, já que pagamos impostos, mas não são só dois textos possíveis num espetáculo de papéis marcados?

Eu sei, Debord acenava com um 'pós-anarquismo num mundo ainda não anárquico' - gilbertismo-gil à parte - e não para um socialismo stalinista, justificável pela popularização de taxas de um Estado paternalista, que assim seria mais justo e por consequência, verdadeiro.

Mas retornando ao Capital. Saber em pormenores o funcionamento do sistema capitalista, através de um livro, é espetacular e nada mais contraditório, pois é isso que o fez sobreviver ao longo dos séculos; pois ao ser bobardeado por críticas, ele se adequada às mesmas sem mudar em essência: vide direitos trabalhistas na contínua luta de classes. (vejam a mim em lapso, emprestando marx de marx mesmo, para tentar provar uma tese que não é minha, mas de Debord) ).

Assim, num paradoxo, foi O Capital (onde por de trás de suas linhas se ouve a voz do socialismo) quem possibilitou o longo rastejar de um sistema, 'decorado como decadente e fadado ao fracasso', nesse espetáculo que é ele mesmo, e em metamorfoses que chegam ao máximo da produção de rebeldias, ao permitir discursos da 'social-democracia' como sinônimos de ética e de revolucionarismos. (?)...


Uma analogia: o bom e velho Nietzsche disse que o cristianismo só não ruiu, porque Lutero, "aquele monge impossível", deu folego 'moral à doutrina', e ela se arrastou até nós, do jeito que a conhecemos hoje: um corpo prestes a falecer, diante de tanta hipocricia; teria Marx feito o mesmo que Lutero, com o capitalismo, ao escrever O Capital e desencadear as críticas e lutas no âmago dessa patologia?

Em outras palavras, o socialismo, vírus rebelde, reforçou o sistema imunológico do capitalismo?

AHH! que lá onde o vento faz a curva é que o cachorro morde o rabo, sô! Mas continua latindo e o vento soprando!! Trem doido!!!

domingo, 28 de agosto de 2011

Somos nós os primatas do espetáculo?



Dedicado ao A&V e ao TOM. "às vezes ser o chefe da matilha, cansa"

Evolução


Tristeza, segunda-feira,

a vida escorre pelos dedos.

Areia irrecuperável.

Lentamente,

me transformo em pó.

Pó da segunda-feira.

Bom dia para se morrer.

Apesar de estar morto.

Não acredito por que não quero.

Amargura, segunda-feira.

Chuta-se o cachorro, mas ele sorri.

Pensa-se na estrada, ela chama.

Porém, em covardia abafo a chama ardente.

Fico pensando invejoso,

viver como cometa no céu.

Transpor horizontes.

Riscar céus planetários primitivos.

Ruptura definitiva das raízes minhas com a gravidade racional.

sábado, 27 de agosto de 2011

com uma pequena ajuda do filho mais velho



Foi em 1993:


O ouro sai pela boca de um filho.

Sangue da alma.

Bondade e inocência.


-Paiê! Quando você morrer, e for para o céu, você pode se juntar aos Beatles! Que tal?



os LPs estavam espalhados pelo chão. Miguel tinha 3 anos, corria de roupa vermelha pela casa; o vinil do sargent pepper comia solto na pick-up do aparelho de som; em sua inocência me viu na capa, talvez porque enquanto ouvia a música dos meninos de liverpol, eu sorria como eles, um sorriso temporal, sem futuro, presente ou passado; existencial e essencial, pelo menos para ele. Será que as pessoas ainda sorriem quando ouvem música? Os mais novos não sabem o que é isso, não trazem em sua antiguidade essas ruínas imprescindíveis, porque as melhores músicas estão nos LPs; sempre. Pergunte a Bob Long, sim, pergunte a Bob Long.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Passos de um homem vazio

Quando a lua é cheia, não posso suportar a possibilidade de viver o dia útil de amanhã.

Necessito soltar um imenso trago de fumaça pelos lábios, até que meu braço fique tão longo e possa tocar o hálito da lua.

Inebriado, sou mais feliz, ou simplesmente, não triste.

A umidade da noite é própria.

É a grande vagina que nos guarda.

O céu é um imenso buraco negro e não conhece a palavra end.

Quando a lua é cheia, as vacas olham pra o chão, para o reflexo da lua no verde do capim.

Eu pasto em silêncio. Por toda vida.

Eu e a vaca, sob o mesmo céu dos dias úteis; inúteis.





*********************************************************************************************


a noite é quando o dia dorme

meu pensamento é folha

se vai no vento.

O dia é quando a noite dorme

Minha sede é viva

Voa sobre o campo; cevada.

O sangue borbulha

Homem refrigerante


Mulheres me fazem andar adiante

Ando no vento

Pegadas no ar

Árvores me acolhem em seus braços


Se fosse vento

Eu viveria nos braços da chuva

Flores amarelas, o ipê oferece.

Nos cabelos da chuva,

Flores amarelas.

Eu e ela, na dança do sol.

( prisioneiros do acaso)



*****************************************************************************************

Não quero voltar pra casa.

Errante.

Sideral.

A lua na poça da chuva.

Um vazio na alma, tal como numa orquestra.

Chorar é comum. Sorrir a melhor prática.

Não quero voltar para casa.

Não tente.

Melhor se calar.

Há milhas a caminhar.

Cantil?

Destilada.

Eu sinto a terra girar.

Meus melhores amigos estão num carrossel.

Quando estaremos juntos?



domingo, 21 de agosto de 2011

Shazam e Xerife





Considero a TV de hoje uma lata de lixo que às vezes usa cabo e às vezes, não. Dentro dela tem um canudinho e nossos jovens vão sugando seus nutrientes tão saudáveis para a sociedade. Mas lhes digo, nem sempre ela foi tão ruim assim.

Paulo Jose e Flávio Migliaccio faziam nos anos 70 um seriado chamado Shazam e Xerife, dois amigos andando pelo mundo em sua “Camicleta”, um furgão calhambeque cheio de mistérios. Cada dia estavam numa cidade, num lugar diferente, ajudando alguém, ou simplesmente conhecendo a estrada. Lembro até da música, ainda canto em dias de saudades. “ Hei Shazam, herói de revista em quadrinhos”.... e eu tinha só 6 anos na época.

De posse de tal influencia benigna, chamei dois amigos da rua para pegarmos um monte de ferro velho do fundo do quintal de casa, para fazermos uma Camicleta. Meu pai era mecânico e possuía um fantástica coleção de pneus velhos, pára-lamas, carburadores enferrujados, borrachas e latões.

Era simples, só por a tranquerada na rua, montar o veículo e sair pelo mundo. Tal como Shazan e Xerife faziam diariamente na TV.

Veja bem o desejo que a TV nos passava: sair para conhecer o mundo, fazer amigos, sem rumo, sem destino e nem se pensar no lucro; ou no que você vai ser quando crescer?

Meu pai nos pegou no meio da cozinha, carregando pneus, latas, carburadores e madeiras velhas para fazer o veículo lá na calçada. Eu tinha a clara idéia que o construiria em no máximo, uma hora. Logo estaria na estrada. Acho que ele pensou em como contornar aquilo. Coçou a cabeça e disse.

—Faz a Camicleta lá no quintal mesmo. Quando ela ficar pronta, a gente tira a cerca do quintal e sai com ela pelo lote vazio, aqui do lado.

—Mas tem que passar pelo quintal do Sebastião!

—Eu falo com ele.

Legal, voltamos e começamos a fazer a Camicleta no quintal mesmo e nem lembramos mais de tirar cerca alguma. Começamos a viajar ali mesmo, pelo mundo todo e ouvindo a musica só na cabeça. Ainda não havia a máquina publicitária que põe tudo a venda.

Com o tempo, acabou Shazan e Xerife. Era a modernidade, nada mais poderia ser em preto e branco e acho que o programa foi deixado de lado, não sei. Nem reprisá-lo foi possível.

Mas tudo bem. Nem bem se passou um ano e veio Sítio do pica-pau amarelo, produzido pela TVE, em parceria com uma emissora que me recuso a falar o nome. Foi lindo, lindo.

Eu era de novo um herói de historias em quadrinho.

E as crianças de hoje têm de agüentar a ...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A montanha

O gigante adormecido, Itaguaré; é o perfil de um homem, percebe?


A primeira vez que fui acampar, fui com uma camisa xadrez, calça de algodão cru, tênis, mochila nas costa e urucum no bolso. Foi num janeiro da vida e chovia feito um “catiço”. E eu ali, subindo a escarpa, por caminhos d´água, uma delícia. Foi a primeira vez em minha vida que tomava uma chuva e não tinha nenhuma marquise para me esconder. Somente árvores, que não negam a chuva e deixam as gotas passarem livres e geladas.

Depois de quatro horas morro acima, carregando peso, chegamos a uma cabana de caçador — entenda cabana por quatro troncos finos sustentando uma cobertura de bambu e cheia de furos. Armamos nossas barracas ali, emendando com a cabana. Éramos quatro e estávamos molhados.

O primeiro baque foi não poder acender a luz ao fim do dia. E como fazer uma fogueira com a lenha toda molhada? A salvação da lavoura foi o fato de termos levado combustível sólido; com ele secamos lenha e fizemos uma fogueira. Dormi em chão duro e úmido. Sensacional.

O objetivo da excursão era o pico do Itaguaré. Aquela cabana seria nossa base, pois no outro dia, subiríamos sem muito peso, para curtirmos nosso passeio.

Tente dissolver leite em pó em água gelada pela manhã, é perfeito. Principalmente se você estiver com a idéia de fazer um mingau e não uma bebida. O pão com carne de soja quebrou o galho.

Com a barriga cheia, resolvemos subir o morro, que a certa altura, parecia ter 45º de inclinação e o ar ficava cada vez mais leve. Até lembramos das aulas de química, numa parada para tomar fôlego.

—Lembra... daquele troço de....química? o ar... raro?

—Não é....raro, é...rare...fei..to! ufff!

—É, ...é isso aqui!!

As nuvens cobriam o céu e a gente não podia ver o pico. Estávamos cada vez mais perto da nuvens, mas nada de Itaguaré. Mas algo mudou e o caminho ficou plano. Nessa hora, um dos integrantes da valorosa expedição viu um ratinho minúsculo. Com facão nas mãos, foi pra cima do bicho. Tinha uma faixa amarrada na cabeça, modelo Rambo e sentindo-se como tal. Foi para o combate.

—Cara, deixa disso, é só um ratinho.

Diante da reprovação de todos, parou e o ratinho correu para o meio da mata. Olhei para ele e percebi que a interferência norte americana em nossa cultura ultrapassava as roupas e a faixa na cabeça. O cara havia incorporado o Rambo e ia trucidar o pobre ratinho, talvez um grande guardião da floresta.

Voltamos ao caminho e estávamos mais próximos das nuvens do que nunca e com o caminho plano. O que mais poderíamos encontrar? Lógico, a descida.

Não percebemos que estávamos atravessando a montanha. Não vimos o desvio que levava ao pico. Tivemos que voltar e aí sim, encontrarmos o desvio. Mas já era tarde e tivemos que voltar para a base do acampamento; ainda chovia.

Nas barracas partimos para o almoço que tinha supervisão do Gustavo, o grande mestre cuca e Rei dos improvisos culinários. Jogou a água da lata da sardinha no arroz a ser cozido. Ficou espetacular. Nunca as formigas do lugar comeram tão boa iguaria. De novo, foi pão com carne de soja e sardinha crua.

Eu não entendia nada de natureza, e até hoje não entendo. Mas fui, fui ver o mundo que não conhecia, tentar um contato. Tudo bem que na época errada, pois não se acampa no mato em janeiro, mas sim, em julho. Sob o mais lindo céu azul do mundo.

Um dia ainda volto lá. Ahhh! Volto!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Toda sociedade secreta está a um passo do pastelão


Cavalo de brinquedo

Eu era operário. E veio a crise e fui dispensado. Tive que procurar outra coisa para fazer. Meu tio, que me alugava o quarto dos fundos, com medo de ficar sem seu parco aluguel, me deu a idéia: “Seja um detetive particular, o que mais tem no mundo é mentiroso e mulher adúltera”. Aceitei a dica e fiz um curso por correspondência. Em duas semanas o equipamento de detetive chegou, e com um sobretudo marrom de brinde; junto veio um certificado. Eis a globalização.

Anunciei-me no jornal: Mário Mello, detetive particular; 3188-2209. Sentei-me à frente do aparelho e esperei a primeira chamada; mas foi a campainha da porta quem soou alto. Era meu primeiro cliente; mas veio até meu endereço que eu não havia publicado. Não consegui fazê-lo explicar como havia me encontrado, estava ansioso demais e olhava pros lados. Usava terno negro, óculos e um bigode sob um nariz adunco. Um chapéu amassado, cor de gelo, destoava de todo conjunto. Me fez lembrar Harry Crumb. Depositou cinco notas de cem no bolso do meu sobretudo e disse:

— Você precisa descobrir o mistério!

— Quê mistério?

— Sobre os Maçons.

— O quê?

— O grande arquiteto deles tem algum mistério. Descubra-o.

Virou-se e foi em direção à rua. Fui atrás e segurei-lhe o braço. Estava pronto para devolver o dinheiro, mas ele fechou a cara e foi enfático.

— Pergunta pro seu tio sobre o aluguel; ele também desconfia do grande arquiteto. Há um segredo a esse respeito e quero saber. Eu volto para saber os detalhes. Até.

As cinco notas de cem me convenceram. Ao voltar pra dentro de casa me deparei com o velho tio. Me fez uma palestra sobre os Maçons que terminou no muro das lamentações. Fui pro meu quarto e tomei o resto do conhaque. Pensei num grande arquiteto, mas só me vinha em mente os caras que construíam museus. Dormi.

Noutro dia fui à loja maçônica. Não imaginava começar por outro lugar. Era um prédio cafona, com pilares de gesso. No hall havia um guarda e me dirigi a ele, mas antes olhei pra parede e vi um quadro no formato de um papiro, com uma frase surrada: “Hiran é nosso carnavalesco”. Assim que terminei de ler, o guarda me disse:

— E uma bela frase, não acha?

— Sim; é do arquiteto?

— Não, é de Salomão.

— Claro. Eu confundi.

— Mas o quê o senhor deseja?

— Saber a respeito do Grande Arquiteto.

— Ali, no guichê C.

Percebi que havia guichês no hall, um com a letra C e outro com a letra D. Perguntei ao guarda qual era a diferença entre eles.

— D, é pra quem sabe quem é Hiran; C é pra quem não sabe.

Me aproximei do guichê e uma mulher de óculos e cabelos presos perguntou o quê eu queria. Eu disse sem pestanejar:

— Qual é o mistério sobre o ‘Arquiteto’?

Foi como uma bomba. Assustada, me disse:

— São mais de três mil anos de espera. Nunca pensei que sairia de minhas mãos o segredo.

Se levantou e foi até o cofre; depois me entregou um envelope lacrado e se foi. O guarda havia sumido. Em casa meu cliente já me aguardava. Pegou o envelope de minhas mãos, rasgou e leu de maneira ansiosa; suspirou e se foi.

Corri até o papel, que ficou jogado no chão, e li:

“O arquiteto é ruim de matemática, por isso morremos todos antes dos cem anos e somos imperfeitos e por isso precisamos de viagra, cachaça, Almanaque Sadol, novelas, além de qualquer hemorróida e/ou unha encravada nos derrubar”. Pensei: “Com arquiteto desses, quem precisa de inimigo?”

domingo, 14 de agosto de 2011

Esperança...'o cadáver adiado que procria' escreve cartas a ele mesmo ao piano


A quimera de plástico sobre a mesa.

O silêncio da rua porta afora.

A hora me aflora o todo tempo.

Me chamo criatura iludida.

Os cometas dançam sobre a minha agonia.

Lembranças, calabouços, cadafalsos, masmorras.

Trafego pelo tempo nas lembranças.

Mãos estranhas ao movimento do corpo.

Lucidez. Peça disforme do quadro.

Suspiros de amor sobre o lodo da luxúria.

Um castelo maldito me fez exilado. E não há portas.

O ritmo alucinante de mim mesmo é o sol sobre pedras

Quero sonhar. Que haja outros palcos.

Os sonhos são vampiros que celebram a carne.

Não me importo que não haja portos, templos.

O pó dos ossos dos mortos flutua no ar.

Aspira, deus hindu!!


A flor é o vinho da noite. A árvore encantada.

As ninfas praticam livremente o adultério.

Sonho. Tempo. Sonho.

cego, não vejo o aço das engrenagens.

sonho. tempo. sonho


O que há mais para se fazer nessa vida?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Até quando (e por quanto) a Rede Globo acha que consegue nos enganar para defender o neoliberalismo?

Espero que a realidade imite a ficção.......V


Veja abaixo: repórteres da globo entrevistam sociólogo errado; o mal estar é visível. Quem foi que chamou esse cara? Ele só diz verdades. Isso é proibido na imprensa neoliberal!!



Manipular a opinião pública sempre foi especialidade da rede Globo, que é o THE NEWS OF THE WORLD do Brasil. Marinhos e Murdochs têm muita coisa em comum.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Aos navegantes aéreos potiguares, que cortaram o frio do verão do vale do paraíba, na linha de capricórnio


Das pedras que seguram os jornais das bancas cardinalis,

Do giro das mãos do pipoqueiro sobre a alça da panela,

Da fumaça que traz o cheiro do queijo em larva incandescente,

Terra, os leoninos dançam no agosto cinza da pelota azulada.

As morenas acenam em nossas lembranças enquanto passamos rumo ao cinema.

À força ancestral das capricornianas que nunca beijei,

aos quadros das meninas desenhados no fumaça do cigarro,

aos olhos das deusas tupis por de trás do vidro escuro da garrafa,

Terra, a voz dos amigos entoando a mesma canção do desespero,

a saudade é o desespero congelado pelas ausências,

às cordas das violas, Terra, que ressuscitam as mulheres mortas na alma,

os amores velhos são jazigos etéreos, única metafísica Terra que tiro o chapéu.

Eis a forja da poesia, o forno de onde saem os hálitos lunares de minha sanha.

Ao movimento barroco das nádegas afro-barrocas-brasileiras nos meus ‘olhos vazados’ pelo azul indiscriminado do céu que lambe o mar com sua língua, na curvatura do mundo que chamamos Terra.

Aos navegantes potiguares, saudades do mar sob a mangueira do quintal in super moon.

(a grande árvore era o mastro, as folhagens a vela, o chão o tombadilho, a lua o farol, e o giro da terra aos goles da cerveja)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Poema


Prefiro o sol.

Mesmo na tarde fria, o sol.

O túmulo me espera plácido,

Flores sobre o concreto.

O pó em potencial.

Morre-se antes, na indiferença da vida.

O chão recebe meu corpo.

Meus olhos vislumbram o céu.

Eles e as nuvens na longa tarde do céu.

E eu que acho tudo calmo.

A tempestade guardada no peito.

Escondo-me na depressão. Abismo líquido.

Etérea mão que não afaga o ego meu.

Prefiro o sol.

Mesmo no vento frio, o sol.

O formato das mãos são claros.

Um riacho me disse que era feliz.

Não sabia quem era, nem para onde ia.

domingo, 7 de agosto de 2011

O sonho



Alá estava em seu jardim. Os deuses têm imensos jardins infinitos, e nada fazem por lá, a não ser andar de um lado pro outro. Um dia Alá chegou à fronteira de seu jardim com o de Jesus e, através da grade, o chamou. Jesus estava cabisbaixo. Disse que estava triste porque agora havia terroristas agindo em seu nome, com bombas e matança de gente. Alá sorriu e disse: “Você se acostuma. Tenho centenas de homens-bomba em minha consciência”. Mas isso não aliviou a barra de Jesus.

Assim, o deus do islã chamou Jesus para que caminhassem juntos. Saíram de seus jardins e caminharam por jardins menores, e num deles, havia um trailer que vendia cervejas e cachorros-quente. Era o trailer de Buda, que ganhava a vida honestamente. Buda sentou-se com os ilustres fregueses, pois não era todo dia que se recebia Jesus e Alá, assim, de uma vez só. Os dois consolaram o Deus cristão, pois eram seus amigos; mas não puderam deixar de dizer que, afinal, não era a primeira vez que matavam em nome dele, Jesus, e ele deveria saber disso. Jesus concordou, mas disse que sempre teve proteção da imprensa, mas dessa vez, na Noruega, não dava pra tampar o sol com a peneira.

Buda e Alá, diante de um Jesus tristonho, foram até a um campo de futebol nas proximidades do trailer do Buda. O futebol alegra as pessoas e lá foram os três, tentar esquecer as amarguras da vida. Para isso o futebol fora inventado. Se apresentaram na portaria e foram aceitos pelo treinador, que não era louco e não recusaria essa milagrosa participação.

Como o número de jardins no Universo é infinito, com um número infinito de deuses, há um campeonato de pontos corridos entre as agremiações celestes que ninguém sabe quando começou e nem quando vai terminar, dado o fato da somatória de números ser infinita.

Naquele dia jogaria o Tricolor da Angélica Aliança, contra o Alvi-negro dos Portos Estrelares. Jesus, Alá e Buda entraram em campo. A galera delirou. Jesus jogava meio estilo Ganso, distribuía bem e batia colocado com a esquerda; Alá, espécie de Neymar incontrolável, era só ataque; Buda ficou lá na frente, parado, espécie de Leandro Damião careca. Mas foi dele o gol da vitória do Tricolor.

Depois do jogo, os três foram para a balada com os torcedores e com as marias-chuteira. a balada durou milênios, porque assim são os dias dos deuses. Quando acordaram, estavam num imenso palácio, o palácio das Vaidades. Os três estavam sentados frente a frente, em círculo, num chão de vidro cheio de almofadas de cetim. Naquele palácio os três eram visitados constantemente por gente de todos os lugares; a maioria queria os autógrafos, pois depois daquela partida inesquecível, tornaram-se super-stars. Televisões, revistas, jornais, templos, bancos, escolas, exércitos e prisões só pensavam neles. Assinaram milhares de contrato de publicidade.

Mas eis que um dia, uma das portas do palácio se abriu e um bebê, um menino que estava prestes a dar os primeiros passos, entrou. Ele ficou em pé diante dos três e cambaleou. Parecia que iria cair no colo de Jesus, mas bem na hora se equilibrou e parecia se dirigir aos braços de Alá, mas de novo se re-equilibrou e quando todos pensaram que se entregaria ao Buda, o menino, ereto, controlando o próprio corpo, de novo, ficou em pé; e sem ajuda. Em seguida passou a caminhar livremente.

Com o domínio das próprias pernas, o menino olhou nos olhos dos três deuses que imediatamente começaram a se transformar em névoa, que desapareceu a flutuar além do céu; o palácio também desapareceu. Em seu lugar, uma estrada surgiu debaixo dos pés do menino, que já não era mais um bebê, mas sim um jovem adulto, que começou a caminhar de posse do próprio destino. Ele era o espírito da humanidade. Atrás dele iam os animais terrestres.

Longe, no horizonte, - seus olhos agora viam a Terra, - havia uma montanha com ar puro e água limpa em seu cume. A semente do homem pleno começou a escalar a montanha e, quanto mais subia, mais forte se tornava; além de viril e exuberante. A certa altura parou e olhou pra trás. Lembrou-se dos sonhos entorpecidos que tivera e lamentou o tempo que perdeu de sua vida, quando acorrentado a sentimentos tão medíocres e letárgicos.

Agora era livre para voar como uma águia e usufruir o máximo de si mesmo. ( e dançava a música que os tolos e os medíocres se recusavam a ouvir)


(aos amigos: estou querendo enviar está crônica ao jornal da cidade. minha mulher disse que dará rolo. será?).

sábado, 6 de agosto de 2011

A substância da manhã

A substância da manhã
A voz rouca da travessia noturna
Pó de estrelas nos supercílios
A jaqueta cheirando a fumaça
Os bancos vazios da estação




quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Tea Party

Tea Party (Partido do Chá) é uma facção dentro do partido Republicano, nos EUA. Por natureza, o partido Republicano é conservador; o Tea Party é sua ala mais extrema e mais radical. Tão radical que chega ao mesmo nível das idéias nazistas. No Brasil os partidos que mais se aproximam da essência do Tea Party é o DEM e parte do PSDB; vide discurso de José Serra nas últimas eleições: um amontoado de besteiras conservadoras de extrema direita, que confunde discurso político com religião.

Mas voltando aos membros do Tea Party, eles são criacionistas; querem a expulsão dos imigrantes dos EUA; são contra o aborto, mas não se importam quando as crianças morrem de fome em função de sua política elitista; querem sempre cortar verbas da educação e da saúde; protegem os poderosos, os mais ricos, os quais, segundo o Tea Party, não devem pagar impostos; são a favor da pena de morte, sobretudo para negros, mexicanos e brasileiros; se dizem cristãos ortodoxos; querem consumir armas livremente e apóiam qualquer invasão bélica dos EUA a qualquer país. Ou seja, uma maravilha. Costumo dizer que o cristianismo poderia dormir sem essa. O duro é que tem gente aqui no Brasil que tem o mesmo discurso e ainda agradece a Deus por isso.

Na Noruega “O Tea Party” de lá partiu para as vias de fato, em 23/07/11, o terrorista cristão, em pleno uso de suas faculdades mentais, Anders Behring Breivik, explodiu bombas e matou jovens acampados numa ilha e em pleno dia de verão. As vítimas eram do Partido Trabalhista; aquele que defende políticas sociais, caminha junto aos imigrantes, discute o aborto, a eutanásia, a ampliação da educação e do direito à saúde.

Como eu sei que você é perspicaz, caro leitor, você já entendeu que José Serra, nas eleições de 2010, deitou e chafurdou nas teorias neo-nazistas: disse que a falência da educação pública era motivada pelo excessivo número de nordestinos em São Paulo; queria combater a Bolívia com o exército brasileiro; transformou Nossa Senhora em seu cabo eleitoral; demonizou o feminismo ao rotular Dilma Roussef de demônio maior do aborto; nos cultos evangélicos prometeu vetar qualquer lei que transformasse a homofobia em crime; desejava privatizar o mundo e o fundo; disse que os pedágios, ao redor da grande São Paulo, não eram caros; e despediu um repórter da Cultura por perguntas de teor impróprios a sua campanha. Que Hitler não seja louvado em sua glória, pois seus seguidores continuam na ativa. Estão no Tea Party, nos EUA; com Anders Behring Breivik, na Noruega; e com José Serra, DEM e parte do PSDB, no Brasil.

Não posso e não quero brincar com sua perspicácia; não posso, não tenho esse direito! Quem manipula a opinião pública é nazista. Quem pede para que a mesma reflita e chegue a suas próprias conclusões, já é meio que humanista. Por isso prefiro a segunda opção. E sei que nesse momento você está pensando: “nas eleições passadas, setores da CNBB soltaram panfletos para serem distribuídos ao final das missas, demonizando Dilma. Nos cultos evangélicos Dilma era chamada de mãe da homossexualidade. Atribuíram-lhe um crime fictício, à época da Ditadura, via e-mails. Que ela era ligada ao narcotráfico das Farcs. E etc., etc., etc.".

Calma! Vamos acreditar que essa ala ‘cristã’ não sabia o que estava fazendo. Talvez por falta de um senso crítico mais apurado, não percebeu que comungava de idéias neo-nazistas e que, 'o amar ao próximo como a ti mesmo' foi deixado de lado, mas só no período eleitoral. E tem mais: quem quer discutir salários, aposentadorias, educação, saúde pública, meio ambiente, inclusão social, racismo, homofobia, pedofilia e privatizações nas igrejas, pastorais, programas de rádio e TV da cristandade? “Vai que suaaaaa, meu caro leitor!” Como diria Galvão Bueno.

Só posso dizer uma coisa, “pai, perdoai-os, pois eles ‘não sabem’ que ajudaram a ressuscitar um pouco de Hitler na arena política”.

..No mais, sou Flamengo, tenho uma nordestina chamada Cláudia, ouço Chico Buarque e acho que Dilma Roussef sempre foi, e sempre será, uma pessoa comum; como eu e você. E do pó veio, e para o pó retornará. Amém.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Deus Whitman na (des)morte de Quincas Berro D'água


"...Se houvesse um deus ele deveria dançar, beber e amar as mulheres,e claro, preparar o melhor churrasco e ter a melhor cerveja. Do resto ele gargalharia, com sua camisa branca e bermuda azul, comprimindo os ombros, abrindo um sorriso largo de dentes entortilhados, com gordura da linguiça na sua barba e um charuto cubano apagado no canto da boca. Derrubaria a cerveja na chão, e quase furaria meus olhos com o espeto de maminha... e diria, "Como vocês são idiotas!". Alex Magno Tramp

ps: e antes de tomar uma cachaça, derrubaria um gole pro santo. eh eh eh


"Todo misticismo só é bom, belo e valido enquanto poesia..." Tom (pentatônico) Vital


***Automatic-air-bag-de-cana

"Nefelibatia dos calmos.

Olhos de vidros no céu.

O chão é vasto.

É horizonte líquido o meu corpo.

Nefelibatia.

Eu desejo nuvem que não há.

Idiota. Sou o asno da poesia estrelar.

O pescador à beira mar da areia branca.

Automatic air-bag de cana.

Aquário dos peixes manguaças.

Eu vi uma procissão de Garrinchas. Ali. Ó!!"