Há coisas mais importantes na vida do que as notícias dos jornais. Na ânsia por uma desalienação, esquecemos do vento, de Alberto Caeiro, das noites de lua. “Meu chapa, o violão se tempera com luar e cachaça”, levei mais de vinte anos para entender isso; um velho ensinamento de um boêmio que conheci bem.
Há coisas mais importantes na vida do que a política que nos rodeia. Quanto mais Estado, menos artistas somos, e sem a arte, o oxigênio torna-se supérfluo. Um desperdício. Por que então chegamos até aqui?
Há coisas mais importantes na vida do que a tecnologia das engrenagens otimizadas pela especulação. O desenho límpido de uma criança, com giz de cera, numa parede branca num lugar qualquer: quarto, senado, escola, rua, banheiro. Aquele corpo comprido, com cabeçona, e olhos assimétricos. Desenho. Quem precisa de mais?
Há coisas mais importantes que os patéticos ascéticos das religiões, das ideologias, da cinéfila, da exaustão do mundo que auto intitula pós-moderno; quantas vezes se repete a mesma coisa?
O mais importante é estar à mesa que sustenta a cevada gelada, “deus engarrafado”, como disse Dylan Thomas; o trazeiro ao qual você se acopla depois que o galo anunciou a manhã, e você pode continuar deitado ali, se aquecendo, fruindo e fluindo; a canção que você pode escrever sossegadamente às três horas da tarde...