O Eu aspira comunicar-se com outro Eu, com alguém igualmente livre, com uma consciência similar à sua. Só dessa forma pode escapar da solidão e da loucura. (Ernesto Sábato)
sábado, 28 de abril de 2012
O crime organizado da informação
segunda-feira, 23 de abril de 2012
O poema do Nada
fato, foto e fátuo
Eis me na Terra do Nunca
sem nada nas mãos
as nuvens e os sonhos
o mortos e os fantasmas
translação no mar
a nau pra nada à vaguear
quarta-feira, 18 de abril de 2012
A Caverna
Adoro o brilhantismo do filósofo grego, Platão, (428 -
É uma metáfora e tanto sobre a maneira de olharmos e entendermos o mundo. Quando é que podemos ter certeza de que estamos diante da realidade como tal, ou de algo que se pareça com ela? Algo que se pareça com a realidade não pode ser ela mesma, e sim uma cópia, um simulacro, um reflexo, uma sombra. Se a realidade e a verdade são como sinônimos, tudo o que vem da mera aparência das coisas, ou da simplesmente projeção de sombras, são por conseqüência, falsidades.
Se adaptarmos a Alegoria da Caverna aos nossos dias, podemos começar a entender a profundidade do pensamento de Platão. Exemplos: quando olhamos pro Papa, estamos diante da figura de Cristo, ou de algo que o representa em forma de sombra e/ou projeção? Pergunta inevitável: sombras, projeções e representações podem ter em si a verdade, já que não existem em si mesmas, e suas próprias essências são não-essências? Idem para pastores, atores e políticos.
É fato que há outras Cavernas espalhadas pelo mundo, e para nosso puro deleite. Quando nos postamos diante das manchetes de jornais nas bancas de revistas, estamos diante da mais pura realidade? É quase que obrigatório respondermos, “É claro que não!” Pois é justamente diante das manchetes que ‘alcançamos’ o mesmo nível dos personagens da Caverna de Platão: estamos olhando projeções, sombras, interpretações e simulações da realidade, sob o ponto de vista daquele editorou os fatos da maneira que mais lhe convinha e imprimiu nos papéis.
Mesmo com o advento da fotografia, — que normalmente ilustra as manchetes —, não é possível de se afirmar, categoricamente, que é ela a portadora da‘verdade em si’. A suposta ‘verdade’ vem da interpretação que se faz dela. O mesmo feitiço inebriador é usado pelos telejornais, com imagens e narrações que decodificam o mundo, a bem da ‘verdade’ de quem patrocina e editora a pauta jornalística.
Por mero raciocínio lógico, é fácil de se entender que tanto o Papa, os Pastores, os padres, os jornalistas, atores e os políticos são incapazes de nos mostrar a realidade em sua pura essência, são todos seres abissais das cavernas profundas, as mais distantes da luz. Menos ainda esse labirinto subterrâneo pode levar o indivíduo a conhecer a si mesmo, e de maneira íntegra e total, tal como Sócrates desejava: “Conhece a ti mesmo!”. Eis a única questão relevante na filosofia, além da morte.
Porém, muito pelo contrário, ao deixar-se levar pelos discursos dessas sombras que chafurdam nessas Cavernas, o indivíduo afasta-se cada vez mais de algo seja ele mesmo. Surge, assim, das vísceras dessas trevas, um Homem coberto por teorias e ideias prontas, que o impedem de emitir uma voz própria. Menos ainda, esse indivíduo consegue entender o mundo o seu redor. Pois, não podemos esquecer que ele só enxerga sombras.
Nessa profunda escuridão e ausência de autoconhecimento, o professor é o único que pode trazer luz às trevas. Não que ele possa fazer com que os indivíduos passem a se conhecer cada vez melhor. É justamente o oposto: é o educador quem pode levar o aspirante do mundo adulto a ‘desconhecer a si mesmo’ e de maneira clara e inequívoca. A remoção dessa aura de imbecilidade que envolve a sociedade global é tarefa para um demiurgo, um homem à base de clássicos: Balzac, Pink Floyd, Machado de Assis e Voltaire. Sem os clássicos, o sistema imunológico dos indivíduos não detém o vírus da escuridão ignorante.
Outro clássico, Saramago, escreveu um romance que também veio a se chamar A Caverna, que para ele, era o shopping-center. Um lugar onde vamos comprar aquilo que produzimos como trabalhadores, em troca de um salário, digamos, capaz de comprar tudo à prestação. Isso tudo para que nunca deixemos de louvar o fundo da Caverna e continuar a produzir a riqueza dos grandes investidores; aqueles que financiam as projeções das sombras diante do ponto de fuga de nossos olhares.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Casamento civil igualitário
domingo, 15 de abril de 2012
Meu doce Senhor de chocolate
uma anti-teoria Maia para o fim do mundo
(escrita em 2005)
Ninguém sabe ao certo se foi após ouvir a música de George Harrison que aquele homem, sem ideais de transcendência, resolveu pregar uma peça no mundo. Talvez ele não imaginasse que sua arte fosse causar o fim de tudo. Sim eu escrevo de algum lugar qualquer após o fim do mundo. Ainda estou em minha mente e isso pode ser quase bom. Ao contrário de George, eu nunca quis encontrar senhor nenhum após minha morte. Os vermes sempre me bastaram. Acho digno o fim junto aos vermes, aquela pasta de carne se dissolvendo em água fétida e a dança-festança das bactérias no que restou do corpo. Mas o treco é que não sei como ainda consigo esta unidade, menos ainda como não consigo esquecer a peça que nos levou ao fim do mundo.
Foi primeiro num jornal do interior que a notícia saiu: um homem, ao que parece, um comerciante dedicado ao passatempo da escultura, havia feito uma estátua de chocolate. O que era normal para páscoa, não fosse a figura, a imagem de Cristo. O assunto foi considerado heresia. Às vésperas da Páscoa um Cristo de chocolate sugeria um deboche. Jogava todo o ocidente no mar de consumo do qual sempre se fez imensa força para esconder. Apesar da inevitável clareza da decadência ocidental, não fica bem expô-la assim, sem o menor pudor, num Cristo achocolatado.
O ambiente do Salvador era em ar condicionado. Ele havia nascido num país tropical e como não era possível de fazer nevar nos trópicos, para não derreter, criaram uma atmosfera artificial para sua sobrevivência. O aquecimento global que fosse pro espaço sem fim. Quem precisa estabilidade climática diante de um Cristo de chocolate?
A notícia se espalhou e muita gente pediu para ver o Cristo. Para não dizer que era parcial deixando uns e proibindo outros, ele permitiu a entrada de qualquer um que portasse um dólar, desde que o mesmo fosse deixado numa caixa com a seguinte frase: para manutenção do ar condicionado.
Só se aceitava doações em dólares, pois não se podia pagar para ver um Cristo dessa magnitude com moeda de um país subdesenvolvido. Como era um homem bem intencionado, Avelino abriu um guichê ao lado da porta principal com intuito de trocar a moeda local por dólares. Claro, com um preço um pouco acima do valor oficial, claro, para cobrir os custos da compra do dólar. Aliás, quem quisesse comprar em outras praças a moeda sagrada, podia fazê-lo com base nos princípios do liberalismo, que tornavam o homem cada vez mais humano e ...
O padre local foi até a rádio e ameaçou de ex-comunhão quem fosse em tal visitação. Aquilo não era coisa de católico praticante. Foi bem claro na rádio, para que todos pudessem ouvir:
—...e será inferno para quem for parar lá!
Avelino, ciente que a declaração clerical poderia esvaziar a fila, chamou a rádio e fez uma contra declaração. Disse que sua obra era uma espécie de neo-barroco efêmero. E como tal, era cheio de curvas, mas tentando refletir o que dizia a música de Harrison: tudo passa, tudo passa. Cristo também havia dito isso. Eis a junção das duas coisas no chocolate. Além do mais:
—...30% da renda será destinada a igreja local, a Matriz. — concluiu Avelino no ar.
Diante disso, o padre se viu num impasse e resolveu usufruir do cristianismo. É um bom momento para se perdoar. Então, quem já tinha ido, estava em paz com Deus. Quem ainda pensava em ir, estava liberado. Era apenas uma estátua de chocolate, nada mais. O padre ainda fez uma segunda declaração, onde se cancelava a primeira e deixava claro que:
—...caros fiéis, se é era para uma glória maior, vão até lá, e sem medo. Vão até o Cristo de chocolate.
As filas se multiplicaram e em menos de uma semana foi necessária uma mudança na organização. Era preciso que o local ficasse aberto 24 horas, a demanda era grande de demais. O cofre abarrotava com dinheiro dos ingressos da visitação do Cristo achocolatado, mas foi aí que tudo começou a se acabar.
Uma mulher, vítima de uma doença rara, alegou ter sido curada após ter se alimentado com o chocolate da estátua. Fora uma atitude clandestina, um roubo. Ela havia aproveitado a distração dos seguranças e ultrapassando o cordão de segurança, arrancou um naco de chocolate com os dentes, bem na altura da cintura do salvador. Sim, ela era portadora do vírus da AIDS e foi curada. O chocolate havia pulverizado o invasor, aquele que vinha pela devassidão, pelo sangue podre das seringas dos viciados. Agora ela era pura. Milagre!
O resultado não poderia ser outro: a peregrinação aumentou além da conta, além das possibilidades da cidade. O caso tornou-se internacional. Helicópteros sobrevoavam a cidade, autoridades vinham de todos os lugares. Empresas de chocolate no mundo todo desejavam comprar a patente do Cristo de chocolate. O Vaticano publicou que em breve abriria concorrência. Claro, levaria quem pagasse mais. Porém o dono da estátua lembrou ao Vaticano que a estátua era dele e não da Igreja. O Vaticano respondeu sobre o chocolate não tinha dirietos, mas da imagem de Cristo, era dono absoluto. Os protestantes entraram no rolo, a corte de Haia seria convocada. De quem era o Cristo de chocolate?
A imprensa passou a discutir e documentar exaustivamente o treco. Ninguém mais falava na fome africana, na ditadura da Coréia do norte, na intolerância dos Estados Unidos, na alienação indiana, na corrupção dos governos dos países pobres, do trabalho infantil, das injustiças do poder judiciário por todo o mundo, no tráfico de armas, somente se falava no Cristo de chocolate.
E quando tudo parecia querer normalizar-se, outros milagres eram atribuídos ao salvador feito
Em poucos minutos de circulação, a notícia começou a deixar um rastro de ódio entre na humanidade. O exército da Nestlé resolveu invadir o Vaticano. O Papa havia declarado ser sua, a patente do Cristo, sem negociar, portanto, com indústrias de origem judaica, tal como a Nestlé. Os muçulmanos começaram a se organizar para invadir a cidade sede do Cristo em chocolate, aquilo era uma afronta ao profeta Maomé, que havia sido rebaixado a um modelo de terceira categoria para quem havia feito a estátua.
Cientes que um conflito internacional emanava das entranhas da humanidade, os países produtores de armas resolveram vender o máximo que podiam em artefatos nucleares. Era o momento que o mercado propiciava a venda dessas armas que estavam estocadas há tempos. Hollywood pensou em lançar ao espaço uma estação com capacidade para suportar uma equipe cinematográfica, já estavam pensando num épico com imagens reais, feitas do espaço. Já se falava na maior bilheteria de todos os tempos. Eu não conseguia tirar os olhos da TV que cobria o movimento dos exércitos com precisão digital.
Foi aí que bateram à porta de minha casa e eu fui atender com má vontade. Era um mendigo que pedia algo para se proteger do frio que havia chegado com o fim do outono. Fui até ao armário e peguei uma manta velha. Não tinha tempo para abrir o portão, então joguei a manta por cima dele. Antes que ela alcançasse as mãos do pobre, um clarão tomou conta dos céus e nunca mais consegui dar um passo para trás. Ao que parece, viajo pelo espaço em meio à luminosidade da explosão nuclear, estou na luz, sou um átomo de luz, finalmente encontrei a luz. Não há mais memória. Adeus.
sábado, 7 de abril de 2012
Veja e morra de vergonha
Que a Revista Veja tenha se transformado numa arma da Direita conservadora, tipo Tea Party, ‘DEMos’ e hitleriarismos mais, não é novidade para ninguém. A revista que mais vende no Brasil, mas também a que mais perde leitores, para manter sua receita em níveis toleráveis, fez primeiro jogar a ética no lixo em nome da grana: vale tudo por uma bela matéria, se ela tem ou não relação com a realidade, é mero detalhe. Não bastasse isso, agora se associou ao crime organizado na busca por ‘informações’ para suas matérias. O bicheiro Carlinhos Cachoeira que o diga, e logo.
Nociva, não só por seu alinhamento à escória fascista ‘direitista’ da sociedade, a Veja traz à tona uma questão paradoxal: o bandido diz a verdade e os homens públicos mentem; principalmente aqueles homens públicos de partidos que os mantenedores da revista não têm simpatia e/ou mesmo qualquer tipo de ‘negócio’.
Instaura-se assim uma lógica digna da escória da humanidade, no jornalismo brasileiro. A Veja passou a inserir no senso comum brasileiro, com suas reportagens baseadas em ‘fontes’ limpíssimas que, os criminosos, quando confessam à Veja, dizem a mais pura verdade. A confissão torna o homem criminoso digno, abençoado e perdoado de seus pecados. No fundo a Veja quer dizer que é a realidade mesmo que não presta. Mas há salvação em suas páginas impressas, basta o leitor acreditar somente nelas e em mais ninguém, e seguir sua tendência política.
Mas o que podemos dizer das ligações mais do que explícitas entre a revista Veja e o contraventor, Carlos Cachoeira, talvez o segundo homem mais forte do estado de Goiás, depois do governador Marconi Pirilo? Especular apenas, com ares de verdade, nos torna tão abjetos quanto a própria Veja. Dessa maneira, só uma CPI pode revelar mais detalhes, a exemplo do desmanche do crime organizado que ocorreu no estado Espírito Santo, em 2010: pedofilia, narcotráfico e corrupção e outras pérolas tiveram seus esquemas desmantelados pelas investigações dos parlamentares federais. Sobrou para o legislativo, o executivo e o judiciário capixaba. Da mesma maneira, essa ‘Cachoeira’ torna necessário, não só uma CPI, mas quiça um intervenção no governo tucano de Marconi Pirilo.
Usemos um pouco da história, desejosa por muitos para cair no esquecimento. Cachoeira, mais o seu fantoche chamado Demóstenes Torres (DEM), citam, em ligações telefônicas diversas, o jornalista de alta plumagem da Veja, Policarpo Jr. Muitas informações foram parar nas mãos da Veja devido à conivência da revista com o esquema criminoso de Cachoeira. Um leitor mais crítico pode até perguntar se não seria o caso da Veja, como instrumento ‘jornalístico ético’ por natureza, ter tido a obrigação, antes de mais nada, de denunciar o crime organizado por Cachoeira e não transformá-lo em fonte jornalística, em troca da proteção contra denúncias de falcatruas de certos grupos políticos, claro, ligados à Cachoeira.
É exatamente isso que eu quero dizer, pasmado leitor, quando a memória me faz lembrar o senador Demóstenes Torres, mais o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, — sim o mesmo que deu a Daniel Dantas um Habeas Corpus por telefone, nas prisões da operação da Polícia Federal, a Sathiagraha — quando em 2009, anunciaram aos quatro ventos, — Folha de SP, Veja, Globo e Bandeirantes — que haviam sidos grampeados por agentes da polícia Federal e de forma ilegal e exalavam indignação contra o governo Lula. Sou obrigado a pensar se aquilo já não eram águas dessa mesma Cachoeira(?).
Diga-se de passagem, até hoje os grampos do Senador e do Ministro do Supremo não foram encontrados. Assim, a pergunta que surge dessa lama toda é inevitável: disseram isso a mando de Carlos Cachoeira, que de posse de informações privilegiadas, tentava evitar investigações em seu cafofo, quer dizer, o estado de Goiás?
Bem, a Veja poderia ter dado a volta por cima, se é que isso é possível, e ter lançado um reportagem que não deixasse pedra sobre pedra no caso Cachoeira. Mas não é que justamente no momento em que o mundo do jornalismo do Brasil se debruça sobre o desmoronamento do ícone direitista, Demóstenes Torres (DEM), que a Veja lança uma mega-super-excepcional reportagem de capa sobre o Santo Sudário(!?). Claro que quem se acostuma a mentir e a dissimular a realidade, se torna mestre em fazer cara de paisagem.
O governador de Goiás, Marconi Pirilo (PSDB), no meio desse tsunami todo, foi até mais corajoso do que a turma da Veja. Questionado pela Rede Globo sobre sua suposta relação com o contraventor Cachoeira, respondeu:
— A relação que tenho com ele é a mesma que os irmãos Marinho têm com o bicheiro carioca, Anísio Abraão, que morava num apartamento de cobertura de propriedade dos próprios.