Sísifo
é personagem de um mito grego antigo, um homem que enganou aos deuses porque
gostava da vida. Quase que um Pedro Malasartes da mitologia. Ainda vivo,
convenceu sua mulher a jogar seu corpo, quando lhe chegasse a morte, no meio da
rua e que não o sepultasse. A mulher cumpriu a promessa. No mundo dos mortos,
Sísifo convenceu o deus da morte, Hades, de que precisava se vingar da mulher,
que lhe negara um sepultamento digno. Hades caiu na conversa e liberou Sísifo a
voltar pra Terra.
Porém
Sísifo não foi atrás de sua mulher, pelo contrário, se refugiu numa praia e
passou a curtir a vida. Hades, passado um bom tempo, percebeu que fora enganado
e foi à captura do pilantra. Depois dessa arte, Sísifo foi condenado a rolar
eternamente uma pedra morro acima, que um segundo após instalada no topo, rola ladeira
abaixo e ele tem que voltar e recomeçar a tarefa, e isso é pra sempre.
A
mensagem do mito, segundo Albert Camus, está relacionada com o absurdo que é a
própria existência. Sísifo cumpre seu castigo sem pedir nada aos deuses e nem
tem esperanças de que algo melhor acontecerá. Apenas executa sua rotina
silenciosamente, como bilhões de operários, comerciários, professores,
policiais e qualquer outra profissão que exija rotina e torne a ideia de
destino algo inevitável.
Se
não podemos controlar a própria vida, instaura-se assim o absurdo como essência
da condição humana. Pra que viver se vamos morrer? Há um aprofunda ausência de
sentido em morrer, envelhecer, padecer e sentir-se impotente perante as tramas
do universo que não se importa com a humanidade.
Os
professores, por exemplo, ensinam às gerações mais jovens o quanto é necessário
reorganizar o sistema para torná-lo mais humano e assim libertar a humanidade
da barbárie que lhe é intrínseca. Mas ocorre que, quando os jovens se tornam
homens, se apoderam do sistema e se tornam os algozes de seus antigos
professores quando criam leis, regras, otimizações, reciclagens, sinergias e
bobagens mais com base na melhoria da autossuficiência do sistema, em
detrimento da qualidade de vida dos indivíduos. Eis a ironia do absurdo: os
professores educam os próprios carrascos.
Quer
um exemplo: foi um sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, formado na USP, que
praticamente destruiu a aposentadoria dos brasileiros com a criação do fator
previdenciário. Sim, um sociólogo que na ânsia por atender ao sistema
financeiro, permitiu que milhões de brasileiros passassem a receber uma
aposentadoria aquém de suas necessidades.
Eis
o absurdo: pagar por uma aposentadoria que não se vai receber.