domingo, 31 de dezembro de 2017

A estrela



Na noite densa e escura os homens precisam de luz, de algo que lhes dê sentido. Uma canção, um abraço, a lembrança de alguém que a vida achou melhor levar pra outros caminhos. Ao final de cada ano, o passado se comprime em nossas lembranças, o ciclo da vida aparece diante de nossos olhos. Ele é indiferente, mas nós não conseguimos deixar de senti-lo próximo, tal como se olhássemos no espelho e, por um momento, questionássemos o quê fazemos aqui, nessa Terra?
As Festas de fim de ano são noturnas, por isso tentamos iluminar os céus com nossos efêmeros fogos de artifício. Buscamos na embriaguez dos brindes um sentido metafísico, a frase perfeita, o abraço reconfortante. Procuramos a humanidade que perdemos diante das escolhas nada confortáveis, aquelas que nos tornaram seres menores ao longo do caminho. Mas são elas que  justificarão, hoje e amanhã, os supostos fins alcançados.
Nos negamos ao longo do tempo muito mais do que o fez Pedro, antes do galo cantar. A negação de Pedro está em todos nós, porque defendemos os poderosos com discursos de produtividade, dedicação e importância da obediência. Claro, é muito confortável confundir sujeição com respeito e responsabilidade. E mais fácil ainda mesclar trabalho com adulação aos sepulcros caiados na busca pela sobrevivência básica; pra engolir a auto-excrescência, ou fazemos terapias, ou tiramos selfs com os algozes da ética e babamos ovos de elogios a eles em redes sociais.
E se Pedro não tivesse negado a Cristo antes do galo cantar, mas sim o afirmado como referência e estrela guia de sua obra? Claro, Pedro iria anunciar que, a partir daquele instante, estaria iniciando sua guerra contra Roma, contra os poderosos, contra os vendilhões do templo, contra os 'caiafas' da vida e se juntaria à massa de pecadores excluídos. Tornar-se-ia a pedra da resistência física e real contra o mal que já corrompia a humanidade à época: dinheiro e poder.
Feliz Natal! Diz a coca-cola. Feliz Natal! Diz a Globo com sua musiquinha, "...hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou!...". Tempo este recheado por uma reforma da previdência indigna, pela criação de novas leis de Trabalho bárbaras e desumanas, por uma justiça corrupta e delirante que sustenta o pesadelo como se fosse razão.
Mas sim, a festa de Copacabana é a maior do mundo, podemos comemorar felizes; e em fevereiro, claro, tem carnaval; mas não há mais fuscas nem violões. Somente Pablo Vittar e MBL, ícones da caretice. Pior é aquele que se intitula Mito e pede que se compre armas em supermercados. Oh! Glória, atiraremos, no futuro, uns nos outros, enquanto desejamos um feliz Natal. Sim, é a apoteose do absurdo.
A solução que querem nos impor como se fosse uma livre escolha? Resposta: copiar os EUA em tudo, pois afinal temos um potencial inigualável para a idiotice. Deveras, não vejo nada novo surgir da contramão, tudo é Global. E tem mais: o velho herói do cinema quer mais guerras e quer construir muros; nos quer fora da Terra sagrada do consumo. Somos a escória, os imigrantes que adentram a terra prometida a poucos. E fazemos isso porque o venerável Tio Sam, o herói do cinema, destruiu a nossa terra com sua geopolítica, com a ganância que lhe é peculiar. E segue o fluxo. 
Ora, direis ouvires as estrelas do por vir de seus sonhos? Mas pra isso, precisamos de horizontes. Felicidades. FLZ 2018. 

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