sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A febre amarela



Caro fascista, é preciso que eu seja um monstro, um protetor de ratos, alguém anacrônico, despossuído de um juízo para que seu pensamento possa ser justificado. E digo: não há ilusão maior do que essa. Sim, como justificar os livros que você não leu, os textos que você não escreveu, a palavra que você não proferiu, o debate que você não fez e os adjetivos que proferes ao próximo que desejas longe, mesmo sendo o país uma república?
Não, nem é preciso que respondas. É só uma massa de desejos que brota de dentro de ti e que precisa de ideias prontas, de conceitos mastigados e de um molde em que teu corpo caiba pra dizeres, assim, que és 'normal'. Nada mais 'humano' do que o nazismo e o fascismo, porque se impõem com violência sobre o indivíduo e o obrigam a propagar ideias prontas em nome de uma suposta ordem, a qual não lhe é de direito opinar. É a mesma lógica do poder dos chefes das bocas de fumo sobre seus capangas.
Por isso o cristianismo é supra-humano. Só faz sentido se seus adeptos forem além de si mesmos. Deus se fez homem e como tal, mesmo dentro de suas limitações, se colocou diante de Roma como alguém que era justo; ante aos vendilhões do templo, os especuladores da época, como um guerrilheiro da honestidade; ante as prostitutas, como alguém tolerante; e contra os sepulcros caiados das instituições religiosas, colocou-se como alguém que procurava a inocência das crianças. Pois é delas o reino dos céus.
Vejo o mundo como alguém racional, e não como um beato da terra em transe, pintada de amarelo, em delírio profundo, aspirando pela destruição do Estado em nome de algo que nem sabem bem o que é. Vejo que os bodes expiatórios, eleitos pela ignorância, são 'humanos, demasiadamente humanos' e não diferem, moralmente falando, de seus críticos. A discrepância entre a visão sobre seus objetos de crítica, e o que eles são realmente, incidam uma neurose que já se constitui em doença grave. Não é o que é. É o que o desejo forjado na cachola neofascista impõe para que seja transfigurado em razão política. Teu títere tem toga, ou é dono de televisão, ou é provedor de internet, ou é a própria especulação financeira.
Cabe a você proliferar o discurso que interessa ao poder do qual você não faz parte. A assepsia que o neofascismo deseja pro mundo é 'evangelizada' por você, um a drone que atira e vigia seletivamente em prol da submissão dos povos. Por isso é preciso destruir todo o Estado Constitucional de Direito e transformá-lo em lucro. Menos a segurança pública, a polícia que mata em nome de seus negócios e que deve ser mantida com dinheiro do contribuinte; o neofascista não quer custos. - Esses eram os sonhos de Mussolini.
A inversão da lógica causada pelo delírio dessa demência amarela é prontamente diagnosticada quando o contaminado propaga, aos quatro ventos, que o atraso do país é culpa dos miseráveis que vigiam os carros, ou dos que recebem o bolsa família, ou daqueles que se beneficiam do prouni. Ao culpar a base excluída, e não o pseudo-empreendedor que se metamorfoseia em especulador e caloteiro do dinheiro público, e que a ele foi emprestado para desenvolver do mundo ao seu redor, identifica-se o capacho do fascismo. É esse homem comum que banaliza o mal e o diversifica na estrutura social com ares de 'racionalidade. Enquanto faz isso, protege, como a um sabujo, a elite predadora do Estado brasileiro. 
Quando a bestialidade da política se torna a apoteose de um espetáculo de carnaval, significa que a farsa superou a tragédia. Os livros de História, mesmo proibidos pela amoralidade da tal 'escola sem partido', dirão, no futuro, que houve um tempo em que os brasileiros foram as ruas pra pedir pra serem escravos. Afinal, a fraternidade é branca, a igualdade é vermelha, a liberdade é azul e a demência, amarela.

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