Caro
fascista, é preciso que eu seja um monstro, um protetor de ratos, alguém
anacrônico, despossuído de um juízo para que seu pensamento possa ser
justificado. E digo: não há ilusão maior do que essa. Sim, como justificar os
livros que você não leu, os textos que você não escreveu, a palavra que você
não proferiu, o debate que você não fez e os adjetivos que proferes ao próximo
que desejas longe, mesmo sendo o país uma república?
Não,
nem é preciso que respondas. É só uma massa de desejos que brota de dentro de
ti e que precisa de ideias prontas, de conceitos mastigados e de um molde em
que teu corpo caiba pra dizeres, assim, que és 'normal'. Nada mais 'humano' do
que o nazismo e o fascismo, porque se impõem com violência sobre o indivíduo e
o obrigam a propagar ideias prontas em nome de uma suposta ordem, a qual não
lhe é de direito opinar. É a mesma lógica do poder dos chefes das bocas de fumo
sobre seus capangas.
Por
isso o cristianismo é supra-humano. Só faz sentido se seus adeptos forem além
de si mesmos. Deus se fez homem e como tal, mesmo dentro de suas limitações, se
colocou diante de Roma como alguém que era justo; ante aos vendilhões do
templo, os especuladores da época, como um guerrilheiro da honestidade; ante as
prostitutas, como alguém tolerante; e contra os sepulcros caiados das
instituições religiosas, colocou-se como alguém que procurava a inocência das
crianças. Pois é delas o reino dos céus.
Vejo o mundo como alguém racional, e não como
um beato da terra em transe, pintada de amarelo, em delírio profundo, aspirando
pela destruição do Estado em nome de algo que nem sabem bem o que é. Vejo que
os bodes expiatórios, eleitos pela ignorância, são 'humanos, demasiadamente
humanos' e não diferem, moralmente falando, de seus críticos. A discrepância entre
a visão sobre seus objetos de crítica, e o que eles são realmente, incidam uma
neurose que já se constitui em doença grave. Não é o que é. É o que o desejo
forjado na cachola neofascista impõe para que seja transfigurado em razão
política. Teu títere tem toga, ou é dono de televisão, ou é provedor de
internet, ou é a própria especulação financeira.
Cabe a você proliferar o discurso que interessa
ao poder do qual você não faz parte. A assepsia que o neofascismo deseja pro
mundo é 'evangelizada' por você, um a drone que atira e vigia seletivamente em
prol da submissão dos povos. Por isso é preciso destruir todo o Estado
Constitucional de Direito e transformá-lo em lucro. Menos a segurança pública,
a polícia que mata em nome de seus negócios e que deve ser mantida com dinheiro
do contribuinte; o neofascista não quer custos. - Esses eram os sonhos de
Mussolini.
A inversão da lógica causada pelo delírio dessa
demência amarela é prontamente diagnosticada quando o contaminado propaga, aos
quatro ventos, que o atraso do país é culpa dos miseráveis que vigiam os carros,
ou dos que recebem o bolsa família, ou daqueles que se beneficiam do prouni. Ao
culpar a base excluída, e não o pseudo-empreendedor que se metamorfoseia em especulador
e caloteiro do dinheiro público, e que a ele foi emprestado para desenvolver do
mundo ao seu redor, identifica-se o capacho do fascismo. É esse homem comum que
banaliza o mal e o diversifica na estrutura social com ares de 'racionalidade. Enquanto
faz isso, protege, como a um sabujo, a elite predadora do Estado brasileiro.
Quando
a bestialidade da política se torna a apoteose de um espetáculo de carnaval,
significa que a farsa superou a tragédia. Os livros de História, mesmo
proibidos pela amoralidade da tal 'escola sem partido', dirão, no futuro, que
houve um tempo em que os brasileiros foram as ruas pra pedir pra serem
escravos. Afinal, a fraternidade é branca, a igualdade é vermelha, a liberdade
é azul e a demência, amarela.