quarta-feira, 30 de novembro de 2011

José Serra, o Rush e os Maias

Não, eu não acredito que o mundo vá se acabar em 2012, em função do alinhamento dos planetas, tal como prevê o calendário Maia. O legado dos Maias não é confiável; eles não foram capazes de prever a própria extinção nas mãos dos colonizadores espanhóis, povo obtuso, do qual parte de minha família descende, mas que foi o responsável por uma das maiores carnificinas do mundo, que foi a colonização da América. Não só os Maias foram passados na espada, também Astecas, Incas e derivados, chamados de pré-colombianos.

Por isso acho difícil que a previsão Maia sobre o fim da esfera azul tenha qualquer relação com a realidade. Normalmente as previsões sobre o fim do mundo desconsideram a realidade para suas previsões e como a mesma nunca é avisada, acaba traindo os profetas. Vide a Bíblia, Nostradamus, Jim Jones, Miriam Leitão, Greenpeace, Tom Cruise e etc.

O problema é que números repetidos nas datas são emblemáticos e estimulam a fantasia. Até a banda de rock, Rush, canadense, nos anos de 1970, lançou um disco chamado 2112, uma paçoca de teclados e firulas de contrabaixo, orientados por uma voz fina, do tipo desenho animado, que não dizia coisa com coisa, mas que se tornou vinheta de tudo quanto foi programa de rádio. Pra muitos, foi a primeira morte da música. Mal sabíamos, àquele tempo, que a música ainda iria morrer várias e várias vezes: do Rush aos Menudos, Dos Bee Gees aos funks cariocas. OH!! Céus, deuses nas alturas, resgatem-me desse chão de surdos, num Zeppelin dourado, cheio de Valquírias e capitaneado por um Submarino Amarelo, através duma estrada celeste Pink Road!! Com arranjos de Eumir Deodato.

Mas o papo não é sobre música, mas sim sobre a destruição do mundo e sua relação com os Maias e os números. Nem mesmo o tenebroso 666, ao meu ver, tem alguma relação com o apocalipse. A Besta do 666 é inofensiva perto dos desastres ambulantes que temos por aí; sobretudo quando projetam o futuro em épocas de eleições, em reuniões, digamos, não públicas. Por isso acredito piamente que o número que está relacionado à destruição do mundo seja o número 45. O número dos tucanos, o fatídico PSDB. Não, não desligue, você vai entender e me dar razão.

Em 2010, outra data suspeita, José Serra, em entrevista concedida ao Valor Econômico, mostrou-se “tecnicamente” a favor de retomar, nas reservas de petróleo do Pré-Sal, o sistema de leilões que vigorou no período FHC, onde a British Petroleum, Chevron e mais outras empresas do ramo, ‘eficientes ao extremo’, abocanhariam os poços com a velha receita neoliberal: baixo investimento e lucro alto. Afinal, fora os oceanos, o que os brasileiros e a humanidade poderiam perder? Muito pior do que o calendário Maia, é o estrago do voto.

Devo lembrá-lo, astronáutico leitor, que a British Petroleum foi a responsável pelo maior acidente ecológico da história dos oceanos, no Golfo do México, no ano passado. E a Chevron, ah! a Chevron!, doadora de milhões para a campanha eleitoral de José Serra, furou a ‘zóio’ na Bacia do Frade, na plataforma de Campos, RJ. E deu no que deu.

Imagine por um instante, de volta ao passado, para voltar ao presente, se José Serra tivesse vencido em 2010!? Só um pouco. A essa altura as Chevrons, as British Petroleum da vida estariam de posse dos poços em alto mar e até o fim de 2012, nossos oceanos seriam de puro óleo. Isso aniquilaria a vida humana, a fauna e a flora do planeta; enquanto isso, a Rede Globo, mamando nas tetas do BNDES, diria que tudo estava como no previsto, assim, assista à novela logo mais e não pense! Para isso elegemos Serra. (Socorro!!) Imaginou? Viu o risco que você correu, caso tenha depositado seu voto no número 45? Política é pra gente grande, não jogue água pra fora da bacia na próxima.

Em suma, esta crônica que dizer que: os tucanos já destruíram a educação de São Paulo, a segurança pública (vide aumentos dos crimes em SP), entregaram nosso subsolo aos estrangeiros, junto com a Vale, quase exterminaram nossos empregos, sucatearam o Estado, desarmaram o exército, (Lula é que comprou aviões e queria submarino nuclear), esvaziaram as reservas cambiais, e só não destruíram os oceanos, com a privatização da Petrobrás, porque o povo elegeu Lula duas vezes; e de quebra, o Nordeste virou a eleição pra Dilma. Lógica: o Nordeste salvou o mundo. Viva o povo brasileiro!!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Civilização: somos todos bárbaros?

Atenção, as imagens abaixo são muito fortes. Vide legenda em cada foto.



Alunos da Escola Estadual de São Paulo, Heloísa Carneiro, grande São Paulo, queimam livros em festa de fim de ano, 28/11/11. Férias para a barbárie (?)




Sindicato dos professores de SP, Apeoesp, queima livros e apostilas em meio a protestos. Ao se queimar um livro, uma apostila, destrói-se o método de ensino e seu responsável 'legal', além do próprio objeto da crítica?




1933, ascenção nazista na Alemanha. Hitler convoca seus asseclas para que queimem livros em praça pública. "Quantos mais forem os zeros a seguir o número um, maior será seu poder". Trilussa




Sobras de uma biblioteca em Londres, em 1945, depois dos bombardeios nazistas. A cidade arrasada, mas o livro é meu pastor e nada me faltará.



"Eu prefiro não ver, porque voo alto sobre a montanha. O populacho queima livros e sem saber o porquê!!"

sábado, 26 de novembro de 2011

Eumir Deodato - Antropofágico Zaratustra

Strauss



Also Sprach Zaratustra (Assim falou Zaratustra) é uma famosa obra do compositor alemão Richard Strauss (apesar do sobrenome, ele não tem relação com a familia do também compositor Johann Strauss).
Composta em 1896, a obra foi inspirada no tratado filosófico de mesmo nome escrito por Friedrich Nietzche. O próprio compositor conduziu a primeira performance na cidade de Frankfurt no mesmo ano.
Quase 72 anos depois, com o épico de ficção científica de Stanley Kubrick, 2001: A Space Odissey (2001: Uma Odisseia no Espaço), este tema foi executado na famosa cena onde o macaco descobre que pode utilizar o osso como ferramenta ou arma, sendo o resultado da associação que Kubrick fez com a evolução do homem.

Eumir Deodato disse que tinha um 'baiãozinho' que se encaixava no tema de Strauss e em 1972 ganhaou o grammy pelo LP Prelude, que tem como faixa de abertura, Also Sprach Zaratustra.

Como diria A&V, esse Eumir Deodato é Zaratustra, saiu das areias cariocas, carregado de Jazz do sertão; cactus no alforge de surfista, fez o que Oswald de Andrade queria: sugou a partitura de Strauss e fez outra coisa que parece com a gente: Macunaímas sem bússolas...trem bão, sô, como diria o Tom dos Galos...



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Belle & Sebastian


Há milhões de anos, eu disse a velhos amigos que o som do Belle & Sebastian parecia a trilha sonora do Snoopy. Bruce, Obi-wan, taí, eu não fui o único.


sábado, 19 de novembro de 2011

Século XXI: um século sem ódio?


Uma cena que encantaria Lennon: o cristianismo e o islamismo beijando-se livremente, All you need is love, depois se esqueceriam do 'porquê' de serem tão violentos e anacrônicos. O amor faz com que esqueçamos o totalitarismo que há em nós.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A USP e a Rocinha: Acrópoles?

Clique na imagem para ver melhor o significado da Acrópole


Os fatos não são, essencialmente, suas próprias exibições midiáticas; o desempenho de cada um no palco da mídia, nem sempre é o que parece. O dano maior está na interpretação coletiva do que eles são em sua origem, performance e conseqüência. Em outras palavras, a pertinência da análise do senso comum com os fatos em si, é o que nos constitui como nação.

Desse modo, nas invasões das tropas do Estado na USP e na Rocinha é preciso, antes de mais nada, diferenciar os dois espaços: a USP é, supostamente, para edificação do pensamento livre. Já a Rocinha, uma área à margem da sociedade, criada ao longo da história pela incapacidade administrativa da elite política do Brasil, em termos de inclusão; assim se transformou num paraíso bizarro, onde as drogas são comercializadas livremente, com base numa força armada que chegou a ter ares de Estado paralelo — Estado este nada democrático, diga-se de passagem — que tinha uma sanha pior do que a do Estado burguês e seu eterno romance com investidores/especuladores do capitalismo digital; e onde a vida do indivíduo valia muito pouco, numa lógica mais cruel do que a do “tempo é dinheiro”. Que fique claro que não se pode mais romantizar o crime, tal como ocorria nos anos de 1960/70. Não há ‘nem’ um ‘Robin-Hood’ nos morros do Rio de Janeiro.

Assim, nas invasões do Estado na Rocinha, pode-se entender a manutenção de direitos constitucionais, que passam pelo acesso aos serviços básicos essenciais (coleta de lixo, água tratada, rede esgoto), além do direito de expressão, de ‘ir e vir’ e mais a implantação básica de um dos conceitos de Montesquieu, iluminista do século XVIII, que dizia: “nenhum Estado pode ser constituído onde um indivíduo teme o outro”.

Ao contrário, a USP jamais deveria ser invadida. Vejamos os motivos: Primeiro, deve-se questionar como a sociedade entende o sistema de educação. Quer dizer, que papel a Educação tem dentro da dinâmica sócio-política-cultural-econcômica? Segundo: ao que parece, o senso comum entende o sistema educacional como uma seção dentro de uma grande empresa, que é a própria sociedade, uma visão impregnada de taylorismo/fordismo e infelizmente, recheada, futuramente, de ‘toyotismo’. Terceiro: como pode um sistema educacional ser um sistema educacional, se ele sempre está correndo atrás de concepções administrativas modernas otimizadoras para entender a si mesmo? Eis a premissa da tragédia, — e que Kant nos proteja, — mas o Capital é a priori e a educação, a posteriori. Mãos dadas com o fracasso, qualquer capitão do mato é capaz de dar a ordem: “baixa o pau nos estudantes!”. Poucos os dotados de massa cinzenta diriam, “o quê realmente vocês querem dizer com isso tudo, com todo esse protesto?”. Ninguém em sã consciência se limitaria a dizer que isso tudo é em função de cigarros de maconha.

Podemos assim perceber o grau de nossa catástrofe: um senso comum que não é capaz de entender o significado da Educação e de sua relação com o pensamento livre, só pode eleger ‘inépcias’ para cargos públicos e assim iniciamos nossa espiral de valores negativos, onde a troca de livros, — arte, música e teatro — pelas planilhas, — uniformes, armas e sistemas de vigilância, — se tornaram, cada vez mais, sinônimos do processo civilizatório.

Nossa civilização, creio eu, tem sua origem nas concepções grego-clássicas, em uma de suas contribuições mais fecundas: a capacidade de autocrítica que se desenvolveu na Ágora, praça dos debates, terreno fértil que gerou a Democracia.

Assim vejo a USP, e as outras Universidades públicas, como as Acrópoles do pensamento livre: simbolicamente a parte alta de onde vêm os valores e as críticas que nos orientarão como sociedade. É fato que hoje são espaços pobres, tanto financeiramente, quanto culturalmente; claro, culpa das administrações neoliberais, afinal a prioridade é o Capital e não o ser pensante: e essa é, infelizmente, uma de nossas premissas civilizatórias: Capital a priori; cidadão a posteriori.

E interessante que no Rio de Janeiro, a parte alta, as Acrópoles bizarras não planejadas são os morros, as favelas. A elite, à beira-mar, consome todo pó e todo THC e coisas mais que se comercializam nas Acrópoles (favelas). Mas é ela quem mantém, com seus tributos, a força de choque que implanta a ordem constitucinal, e com seus lucros, o próprio comércio ilegal de substâncias proibidas. E como questionaria Sócrates, o mais estóico dos filósofos, “é possível uma civilização se edificar com base na hipocrisia?”

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

‘Aula de Democracia’

Nosso ‘magnânimo’ governador do estado de São Paulo, Dom Alckmin, disse que os jovens estudantes da USP precisam de uma aula de democracia, pois invadir prédios públicos e não cumprir ordens judiciais e, desobedecer à polícia não é nem um pouco democrático; menos ainda, fumar maconha.

Mas vamos tentar explorar o tema: aula de democracia. O que seria isso? Um dos princípios da democracia é a liberdade de expressão e organização política dos indivíduos em função dos aspectos da realidade que mais os incomodam, ou, pelo contrário, os agradam.

A Democracia vem da Grécia antiga e se caracterizou pelo bate-boca na praça da cidade de Atenas, a chamada Ágora. Ali os costumes e as leis eram questionados em manifestações, greves, aplausos e retaliações; pedidos de populares se transformavam em leis.

Em nosso país a Ágora está na internet, na ‘mídia livre’ e no período eleitoral, aquele que antecede as eleições. Parece que nosso ‘estonteante’ governador, simpatizante da Opus Dei, tal como um cego num tiroteio, ou como alguém cheio de más intenções, — por isso prefiro a primeira especulação, é um cego — parece que também fugiu da aula de democracia que deseja impor aos alunos da USP. Pois é uma unanimidade que nosso sistema educacional público precisa ser mais eficiente, professores necessitam de um salário mais digno, mas o próprio governador se esquece de suas palavras na Ágora, no período eleitoral. É que ele afirmou aos quatro ventos, na busca por votos, que a educação era de urgência máxima e que, assim que fosse eleito, faria tudo pelos alunos e professores. Fez? Como diz Chico Buarque em sua canção, “Mentira”. 1º capítulo da aula de democracia: homem público não mente.

No quesito saúde, a participação das verbas dos governos estaduais fica abaixo dos 15% do total que se utiliza nos municípios; o grosso da grana vem do governo federal e os municípios que se virem com o resto, meros 85% do total. Essa nem os mais eufóricos partidários do ‘Tucanato Senilis Brasilis’ esperava. Mesmo diante de todas as dificuldades que passamos como cidadãos, no quesito saúde, nenhuma palavra ou gesto, ou programa de saúde vinculado com a educação, ou para o funcionalismo público; enfim na boca de nosso Dom Alckmin, abandono e democracia se tornaram sinônimos. 2º capítulo da aula de democracia: o homem público não pode ser negligente.

E vamos sonhar com um mundo perfeito. Por um minuto, imaginemos que todos os nossos problemas, no estado de São Paulo, se limitassem as questões de educação e da saúde e só por mera inépcia do governador Dom Alckmin. Seria maravilhoso, pois não precisaríamos citar o baixo salário das polícias civil-militar. Sem segurança pública não há democracia, mas o jeito que Dom Alckmin trata o policial, hummm, é de lascar. Por isso, se eu tivesse no comando da polícia militar, inverteria a ordem e mandaria a tropa invadir o palácio dos bandeirantes e prender por negligência, o estonteante, o luminoso e extraordinário guru da Opus Dei, Dom Alckmin. Isso sim seria uma aula de democracia. Ahh! 3º Capítulo da aula de democracia: homem público não deixa estradas esburacadas.

Enquanto a polícia baixa o pau nos estudantes, e a classe média, conglomerado de papagaios dos telejornais da ‘imprensa livre de compromissos éticos’, diz coisa que não combina com coisa alguma, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), seu porta voz e guru, luta pela descriminalização da maconha e participa da noite de autógrafos de um documentário, “Quebrando o tabu”, onde, com depoimentos de ex-maconheiro convicto, afirma não haver problemas em fumar maconha.

Esse PSDB é um poço de ‘coerência’: FHC quer a maconha livre; Alckmin manda baixar o pau e ainda quer dar aula de democracia. Treco doido, sô!! Já Aécio Neves, foge dum bafômetro.; principalmente se estiver ao volante.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

A lua


Sua obscura luz azul nos molha à noite e nos anestesia em meio a árvores. O céu fica mais calmo. À sombra, em noite lunar, se percebe o verdadeiro clarão do satélite. Tudo parece calmo, em câmera lenta. Flutuantes.

Somos seres flutuantes no céu lunar. Os passos não fazem barulho, o chão se transforma em nuvem. A lua nos encanta, nos guia na rota misteriosa de nós mesmos. Quem olha pra ela vira poeta, ao menos por um instante. É o que basta: olhar a lua e ser poeta.

Poeta é aquele que olha pra lua e não vê só a lua. Ela pode ser tudo, mas podemos começar pelo sonho. Ou pelo o que não é lua.

Já viu quando o vento carrega nuvens diante dos olhos da lua? As nuvens parecem o tempo passando diante de nós. Me deixo levar, pois ela também se deixa levar para qualquer lugar. Acompanha o carro em movimento como um anjo vigilante. Paralaxe é o nome do fenômeno. Ela sempre nos segue, pra qualquer viagem. Tanto a mim, quanto a você. E podemos não estar no mesmo caminho. Paralaxe!

—...vou casá com a lua!!! Vou casá com a lua!!!

Essa frase não é minha. Pertence a um homem que era louco, livre, que fazia fogueiras na beira da estrada de ferro. Dormia nas ruínas da estação ferroviária, nas ruínas do próprio país. Dentro da cidade.

Tinha um bigode ralo, mexicano, com cabelo preto, liso, um índio. Ficava dizendo que iria casar com a lua. Diziam que fora um renomado professor de matemática, expulso da própria casa por uma maldosa família. Perdeu o fruto de seu trabalho.

Sua loucura era composta de vários mundos. Havia os dias lunares e as viagens ao país da aritmética. Estava sempre alheio, mas bastava ouvir a pergunta sobre um cálculo qualquer, que respondia imediatamente:

—...raiz de 25, quanto é?

—..é 5!!

Uma precisão absoluta.

Mas havia dias em a que o mistério tomava-lhe a alma e parecia querer se libertar dos números, daquela maldita memória exata que todos forçavam-no a reviver, só para alimento do deboche.

Agora sei que sua proteção vinha da lua. Ela sentia seu sofrimento, sua agonia numeral e libertava seus sonhos. Os números que fosse para o meio da beirada. E não adiantava forçar a barra.

—..3 X 3 é:

—...72!! vou casá com a lua, ...33, vou casá com a lua!!!

Sua figura não saiu de minha memória. Ainda vejo a lata de óleo vazia sendo usada como panela em meio a restos de madeira. Ele agachado, coçando a cabeça, os pés no chão, sem sapatos, um sorriso estático. Preso em algum lugar que eu não tinha acesso. Eu tinha tanta coisa em minha casa, menos a coragem para viver tal como ele. Livre, solto. Dar um bico no sistema e ficar olhando a lua, com o direito a errar contas. As recriminações não teriam efeito, o deboche não mudaria o quadro, a caridade, seria só a caridade, mais nada. Só faltou minha coragem.

Ele era o caçador de luas, o amante das nuvens. Meu!! Que inveja!

—Vou casá com a lua, com a lua, com a lua, com a luuuuaaaaaaa!! s j djp32dfkwjdio3~djm3pormc3oinc0i4bv4i-04ni5oytib/54bmr.f %%%% ddd 3if ç ooooooo ooooooop ppop op3 dm wqpo wjdpq owjdpqo. Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!

Assim, a luz clara da lua sobre meu jardim em coroas de flores, se fez.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O mundo ao avesso

A face da Justiça, no mundo ao Avesso


Eduardo Galeano escreveu certa vez que o mundo estava de pernas para o ar. Acho que mais do que nunca, ele o está.

****ENEM 2011: ninguém pensou em cassar a licença da escola que violou provas federais para melhorar a classificação de seus alunos para fazer publicidade com os resultados e assim atrair mais alunos e aumentar o lucro: ética? Menos ainda chamar as falas o bandido, professor, da Escola Christus, até o nome dele saiu nos jornais; pior, o primeiro passo da justiça foi querer cancelar todo o exame, depois só as questões que vasaram, mas de todos, e assim puni-se exemplarmente aqueles que nada fizeram e participaram honestamente da prova. Estes que deveriam ser punidos, segundo a 'Justiça' do Ceará: os honestos.

A mídia, claro, livre para defender sues interesses, enxerga o ENEM como Haddad, candidato à prefeitura de São Paulo que não o é de sua escolha, logo, fogo nele e no ENEN. Quanto mais injustiça para cancelar o trabalho de estudo de milhões de estudantes, melhor.

O mundo ao avesso, na escola do crime organizado pela Mídia, pelos magistrados da elite e pelos partidos que defendem o pacto calonial, ainda.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O futebol antes da aula



(escrita em 2001)

Realmente eu não chegava atrasado na escola. E o motivo era óbvio: futebol. Era o ano de 1978 e o Brasil iria até a Argentina para disputar a copa. Seria dali a dois meses e tínhamos um timaço, com Zico despontando como futuro craque. Tudo mundo queria jogar como Zico, então chegávamos cedo, uns vinte minutos antes da 1ª aula, para exibições no campo das peladas. Não era um jogo propriamente dito, mas sim um improviso qualquer, como cruzamentos sobre a área a tentativas de arremates; ás vezes virava disputa de pênaltis. Quando o sinal batia, era o maior desanimo. É que iria começar a tortura. Se os professores soubessem como é falsa a expressão deles pela manhã, logo na primeira aula, iriam direto para o IML. Era uma coisa maquiada e falsa. Ele(a) ali, na nossa frente, com um avental de tergal esticado sobre a roupa, sorrindo e dizendo que o futuro estava para chegar; precisávamos ser alguém na vida; o tempo não esperava; tudo era moderno; eu deitava a cabeça e dormia. Ficava sonhando com a bola entrando no gol após o meu grande chute. Durante o sonho lembrava que as traves não tinham rede e era horrível marcar um gol sem rede. Tínhamos que fazer um abaixo-assinado e envia-lo ao diretor. Providencias tinham que ser tomadas, um campo com traves sem rede, era um insulto ao talento futebolístico da moçada.

—... por favor, vocês aí no fundo, passem-me essa lista que está correndo a sala.

Sempre recolhiam nossas listas. Eram enviadas ao inspetor de aluno, posteriormente ao coordenador pedagógico e depois à direção; por fim iam para as mãos de nossos pais. Uma verdadeira CPI. Tudo porque a gente queria uma rede nas traves para esticá-la quando fizéssemos gols. Será que ninguém tinha serviço naquela escola? Bom, acho que esse era o serviço deles. A caça de nossas de nossas listas subversivas. Se somássemos o salário deles, podíamos ter uma idéia em quanto os contribuintes eram lesados. E diga-se de passagem, não é exclusividade da escola pública, tal desperdício.

Porém, um dia eu dei razão ao povo do caça lista. A gente pisou na bola. A gente não, o Bolão, sobrinho da Diretora, que não sabia o que se passava ao redor dela, e ao que parece, contaminou o sobrinho com a mesma lerdeza. Foi o seguinte.

Tínhamos chegado bem cedo como sempre fazíamos e a bola rolava tranqüila entre nós. Não sei quem foi o infeliz que achou lá pela ponta esquerda, o couro de uma bola. Só o couro, a bexiga tinha ido para o espaço. Outro ‘infeliz’ que atendia pelo nome de Cézar, encheu a dita cuja com pedaços de tijolos e ela voltou a forma original: redonda. A colocamos na marca do pênalti e continuamos o jogo. Todo mundo sabia que estava cheia de pedras.

Aí entra o Bolão. Veio correndo com seu corpo gigantesco e gritando que era a vez dele. Queria chutar, cabecear, cruzar a bola, sei lá; dizia que era a vez dele. Outro infeliz, que não lembro o nome, gritou para ele, poucos metros antes de sua chegada na área.

—Bate o pênalti!! Rápido!!

Ele bateu. Tenho a clara certeza que doeu e muito. A bola mal rolou uns três metros e ele foi ao chão e ele chorava muito, em meio a grunhidos que a gente entendia como “cambada de filho de uma pu..”, o resto, pode-se imaginar. Resultado, não sobrevivemos ao sinal do término da primeira aula. Fomos suspensos, acho que uns dois dias. Ficar sem jogar bola era fogo.

O pior foi saber que no outro dia, a primeira aula de minha sala fora vaga e a gente perdeu um excepcional rachão. Isso sim, foi um castigo.

Bolão nos perdoou. Provamos para ele que a bola era da turma do colegial. Uma armadilha realmente, mas que ninguém tinha coragem de mexer na bola deles. E se os caras encrencassem? Por isso não mexemos na bola e não tínhamos visto as pedras. Pensávamos que ele já sabia enquanto se encaminhava para ela. Não iria chutar nunca, pois não o víamos como estúpido. Só um estúpido chutaria uma bola daquelas.

—...então tá bom, pessoal! Eu perdôo.

Mas quem não perdoa crianças? Alguém já me disse que é delas o reinos dos céus. Você ainda tem dúvida?