segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

good nigth, my friends....é hora do mundo acabar...

... Joe is dead



eu era uma criança e ouvia as histórias daqueles
que foram ao cinema assistir ao filme, Woodstock. 
Quando chegava a hora de Joe Cocker aparecer na tela
e interpretar o clássico de Lennon e McCartney, With a litle
help of my friends, com sua guitarra imaginária e seus berros de desespero
que deixavam claro que o caminho não era aquele indicado pela
geração que havia levado o mundo à guerra, nem a dos ancestrais que entenderam ser o capitalismo
a alma do homem, muitos dos malucos no cinema se levantavam, tocavam e choravam junto a 
Joe, numa cena lúdica, carregada de desejos do inconsciente coletivo 
de ser livre, longe daquela caretice toda em que América já havia se transformado.       

...silêncio, silêncio...

mas afinal, quem vai chorar primeiro?

Joe, siga em paz...


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Zen budismo + Led Zeppelin + Vinho = Férias



           Luz, eu posso ver a luz. A tarde é território luminoso. Minha casa tem paredes brancas. Eu penso que estou num lugar qualquer do mediterrâneo. O verão, ao contrário, me sugere que eu beba o vinho fresco, tinto, seco, no desenrolar das horas, no ciclo do sol sobre nossas cabeças. Olhar a árvore e sua sombra. Tem até um pássaro que chamo de Nick Drake, ela canta no mesmo tom de uma de suas canções. De repente eu voltei pra casa. Estava imerso numa nuvem de sonhos, de uma metafísica do absurdo, não menos bela, mas improdutiva.
Claro, os dias úteis, eles se foram. Livre, agora, pelo menos por um tempo. Livre, e quero dizer com isso que posso ficar comigo mesmo, pensar sem entraves, sem limitações, saborear a ironia, o deboche, beber da própria imbecilidade, das estultices, como nas cenas de uma peça escrita pelos irmãos Marx.
A solidão, a morte, a tristeza precisam descansar, não podem trabalhar o tempo todo. ‘Nada vai mudar meu mundo’. Infelizes aqueles que não ejaculam, não gozam junto a outra pessoa o sabor da vida. Mas nunca é tarde, ainda podemos fazer um piquenique, uma cesta de pão, queijo, vinho, e o azul claro do verão, como se fosse a Califórnia e seus vinhedos.
Imagino cenas cinematográficas em que posso um dia estar, e representar um papel que sou eu mesmo. Esse livre idealismo de si mesmo é como a história de uma nuvem no céu, sim tudo isso é o que a música e o vinho podem causar em mim, na medula. Um profundo sentimento de estar leve, mesmo que o corpo esteja envelhecendo e o sangue circule sob tutela da bioquímica  e a musculatura enrijeça cada vez menos para benefício do outro ser que te deseja, mas é assim a decadência, bela e refinada, democrática e companheira.
Segue assim o cortejo de nossas aspirações, elas são tolas, como os pardais que desejam o papel dos rouxinóis nos contos de fadas, e assim seguimos nossa rota, ciganos sedentários de pensamentos livres em voos à base de especulação sobre o que não entendemos.  Nada é novo sob os céus. Os poemas, as canções, tem sempre alguém que os acolhe, junto aos desenhos, frases, beijos, jeito do corpo, cristalino olhar que me alcança numa tarde qualquer. Presentes rejeitados por alguns se tornam pérolas nas mãos de outras pessoas sonhadoras.
O que mais quero da vida é esquecer os manuais que a história nos legou. Quero desaprender os mortos, os xamãs, os feiticeiros, os videntes e os filósofos. Também me afasto dos vivos comuns que acham que sou algo que não é meramente humano. Sou um menino no parque que deseja dividir o chiclete, e que é atraído como uma mariposa à luz artificial quando ouve a própria guitarra. Meu cão dança comigo enquanto o Led Zeppelin estoura nas caixas de som. São duas patas traseiras mantendo um corpo lupino que pensa ter duas mãos primatas que desejam me abraçar.  
“Somos descendentes dos primatas, logo não nos cabe alternativa senão a de nos amarmos”, e sob o sol, na chuva, na noite escura, à margem do riacho, no bosque imaginário. E data vênia, dance comigo quando eu estiver morto, o sol se foi pra sempre e baby, você pode me fazer me sentir bem, então dance, dance, dance, porque a noite veio e caiu sobre nós. Estamos felizes, é por isso que podemos dançar ao redor do fogo.
Vou fechar os olhos, não vou deixar o natal e o réveillon sugarem minha alma, são dias comuns, tais quais aqueles em que se abandona o casamento, ou em que se diz ao filho, "...não importa o DNA, você é um ser do mundo, siga em frente e deixe seus irmãos às moscas!. Abandone a Deus, também ao pai, a mãe e se agarre firme na cintura de sua namorada, e não se esqueça de sua guitarra".
          Ah! O abandono, o nada por fazer, a obra de arte, a loucura, a chapação. Eu sei, às vezes nos cercamos de idiotas, no fundo são nossas escolhas, como fazemos com CDs e livros. São eles que nos tornam o que somos, por isso tome cuidado, só escolha aquilo possa ser entendido diante da santa chama da loucura, da liberdade de embriaguez e da nudez mais despudorada que se tenha notícia.

Ps: se não foi possível entender a crônica acima, sorry. Escute então esta música, Picnic, parte da trilha do filme, Sideways, entre uma e outras e talvez você possa entender. Aliás, quero agradecer a companhia dos leitores, poucos, mais verdadeiros. É que estamos entrando em recesso, agora só em janeiro de 2015. kiss in everybody.  



               

                        


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

I'm made of dust, crumbs, illusions...


[...]
Lábios de carne.
O sangue zune.
Os ouvidos vêem Deus.
Ali ele existe.
No pré-êxtase de explodir vulcão.
A mão lisa fêmea nos bagos.
Baco! Eu sou Baco.
Dionisicamente Baco.
Ninfeta, como quero tua língua!
Belo é o crepúsculo fálico do gozo.

[...]  
Não há culpa se as coisas são tristes.
Se o modo com se abre a porta,
se enche o copo d’água e se serve a mesa o são tristes,
é porque tudo é dolorosamente feito da mesma forma,
nas engrenagens do dia-a-dia, nos dentes ácidos da monotonia,
na pasmaceira da vida morta.
Não há culpa nisso.
E se não se faz isso tudo, parece que não há vida.
É pouco o que se tem, o que se sobra.

Imersa na carne, no sangue,
os olhos da demência anunciam tristeza:
no som da campainha,
na voz ao fone,
no vidro que transpassa a luz,
no sol que aquece os pratos limpos,
na cor do carro que ainda não foi pago.
Tristeza.
Agonia.
Violão desafinado ao menor fluir da brisa.

Se eu fosse mais forte, como um cais,
cortaria os pulsos em cacos de lâmpadas,
em pontas de vasos,
em fragmentos de espelhos.
E deixaria a nau partir.

Viagem de alivio à imensidão do nada.

[...]

A lua na longa noite dos esquecidos.
Melhor ser feliz em tempo e sobre a plantação de trigo.

É lua da semana santa,
O “senhor” é morto.
É a hora da bagunça.
Ele não nos vê, assim não julga.

Queres eu da lua sonho.
Saciação.
Ardência. Serenidade. Explosão!!

Queres eu da lua minha amada.
Pele branca. Seios fartos.
Ejacular-se-ia acordes em sol.

À luz da lua, luz florestal,
luz fosca da lua,
ao bronze dos olhos pássaros,
é noite,
então beberei o vinho. 

E bêbado, Baco, tonto, verei na mariposa que rasteja no ar, 
a ninfa que acreditei um dia ter percebido em profundezas arbóreas,
na curva mansa do rio das minhas 8 vidas.   

[...]

...e Brahma dançou sozinho e extraiu sua amada do próprio corpo...



 ...e assim seguiu em paz, na beleza do silêncio...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A consciência servil



Quando alguém passa a ter consciência sobre si mesmo se torna um campo autônomo e desejante que emerge, sem pudor, do processo histórico e prioriza o sentido de uma vida própria.  A bem do raciocínio, deve-se entender que a história é uma sucessão de fatos baseados na construção do mundo material, o espaço geográfico, e tal construção se dá em função da relação entre a consciência do ‘senhor’ com a dos 'escravos'. − Ou, em outros termos, entre as mentes investidoras com as ‘mentes’ executantes, funcionais, que subjacentes, movimentam o sistema ao obedecer a uma hierarquia de valores e a um conjunto de regras econômicas.
Esse ‘senhor’, que é sempre histórico e hoje é pós-moderno, como tem consciência própria inalienável, se torna livre e proprietário legal, virtual e cultural da liberdade. O sintoma da liberdade é a capacidade de agir e desencadear reações em função daquilo que pensou e/ou desejou sobre o mundo. Já o ‘escravo’, também histórico e pós-moderno, por sua vez, tem de abrir mão de sua própria consciência e torná-la autômata, eficiente, pronta para reagir ‘positivamente’ aos estímulos dos ‘senhores’, enquanto mantém seus sonhos e desejos nos limites da tutela da lei.
Mas entre essa massa de ‘escravos’ pós-moderna há os despertos semi-resignados que não aceitam o sistema, mas que também não o combatem com a força devida de suas potências intelectuais. Sua subversão se limita a pequenas infrações e/ou displicência recheada de atos relapsos, que lhes constituem um pequeno alívio ao pouco que ainda existe de consciência livre em suas entranhas. Há espaços na sociedade que são mais tolerantes a essas pequenas ‘licenças poéticas’ dos pseudos-subversivos versão light, e outros intolerantes ao extremo, criando uma apoteose dos conceitos ortodoxos para permear a relação entre ‘senhores’ e ‘escravos’.
Em tempos de escravidão, no Brasil, havia uma figura emblemática, o Capitão do Mato. Era um negro que caçava outros 'escravos' que fugiam em busca da liberdade e, por consequência, desejosos de ter a própria consciência. O Capitão do Mato era a personificação do 'senhor', portanto desprovido de uma existência em si mesma. Era uma (in) consciência que recebia proventos em função da capacidade e da 'qualidade' de extirpar os desejos de liberdade dos seus semelhantes.
Ainda se pode, em pleno século XXI, nas fábricas, escolas, repartições públicas, exércitos, igrejas e empresas em geral detectar a figura do Capitão do Mato. São os gerentes, os encarregados, os coordenadores, os diretores, os supervisores, os mestres, os doutores que se especializam em reproduzir o discurso do ‘senhor’ que corresponde, em suma, à concretização dos desejos dele.
Há toda uma estética nessa subserviência: o cabelo devidamente asseado, o terno e a gravata, o falso discurso progressista, a suposta posse de pensamentos objetivos e subjetivos, os conceitos embasados na certeza do saber de como as coisas devem ser feitas. São artefatos de uma metafísica: o ‘senhor’ do empreendimento está em todos os lugares, ao mesmo tempo em que não está. Sua onisciência é baseada no ‘comportamento drone’ dos capitães do mato, que como diria Foucault, somos nós todos, em tempos de apoteose do capitalismo financeiro.
Essa consciência servil se regozija quanto mais é capaz de dizer ‘não’ à massa subalterna, pois sente que tem posse sobre parte do discurso do ‘senhor’.  Os capitães do mato acreditam que o sucesso e a eficiência estão intrinsecamente ligados à capacidade de fazer as pessoas obedecerem às regras impostas. Por que se acredita que quanto mais as regras forem obedecidas, mais humanizados seremos nós? 
         Em termos práticos: certa vez vi uma diretora de uma escola pública proibir o professor de usar o ‘data show’, só porque o mesmo não estava agendado previamente, apesar de estar consciente de que ninguém iria usá-lo. Mais importante do que o desenvolvimento pedagógico dos alunos, é a regra do agendamento do ‘data show’. Que Deus abençoe a mediocridade.                               

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Desejar uma ditadura é masoquismo


          O capitalismo leva ao consumismo. O consumismo ao individualismo. O individualismo à solidão e ela, por vez, ao desespero. Os desesperados procuram as religiões. Patético, não fosse trágico. Suportar o mundo não é uma tarefa fácil. E nada mais humano do que pedir às forças que estão além de nós uma ajuda, uma mãozinha pra se mudar o destino quando nos vemos em maus lençóis. Agora o que isso tem a ver com a prática de uma postura ortodoxa, com o comportamento fundamentalista, seja de cristãos, islâmicos e/ou derivados?
Por que se acredita que somente os fanáticos podem desencadear no Ser supremo a possibilidade da misericórdia, ou de uma benção? Quem escreveu essa bobagem? Pior, quem acredita nessa bobagem? Quer dizer que Deus, dessa forma, sempre irá reagir se eu me comportar com um completo ignorante no tocante à ciência, à política e à arte, porém suficientemente ‘abestado’ para absorver todos os discursos de pastores e padres carismáticos, e praticá-los na íntegra, e assim apto a me transformar num futuro morador de uma terra prometida (?). Eis a essência do caô! Chuta que é macumba!
O mesmo ocorre na política, onde fica claro que o fanatismo é a terra dos quadrúpedes. Após as eleições pudemos perceber vários deles expostos na mídia, pedindo por uma intervenção militar no Estado brasileiro. − Alguns acreditam que se um grupo de milicos tomar o poder cessar-se-á a corrupção como num passe de mágica. De onde vem a crença em tal absurdo? Primeiro: os militares brasileiros, antropologicamente falando, são tão pilantras, honestos e indiferentes quanto a sociedade civil o é. Segundo: por que a ideia de um único grupo governando, de forma ditatorial, silenciando as críticas e questionamentos de opositores, poderia seria melhor do que nossa constante e complexa rede de discursos abastecida pelo dissenso? Terceiro: por que seria melhor só um grupo no poder que pudesse roubar, matar, reescrever a constituição a bel prazer e sucatear a história de um país? Freud explica: isso é masoquismo!
O conceito de masoquismo vem da obra do austríaco, Leopold Von Sacher-Masoch, do livro, A Vênus de Peles, onde um dos personagens atinge o orgasmo após ser surrado pelo amante da sua esposa.  Freud dizia que o masoquista deseja ser colocado na posição de objeto de alguém que seja ativo o suficiente para desgastá-lo até sua morte. Isso seria fruto de alguma culpa inconsciente que o atormente constantemente, assim sente prazer com a ideia de que será destruído e a face da Terra será poupada de sua nefasta presença.
No campo da sexualidade, acho que estamos numa sociedade suficientemente livre para aceitar que a felicidade do masoquista, quando este passa pelas mãos do sádico e sinta prazer nisso de forma particular, ocorra sem que nenhum crime seja cometido e seja algo baseado no livre arbítrio da liberdade constitucional. Aí tudo bem, sussa! Ou seja, o republicanismo aceita que os indivíduos sintam prazer em sentir dor, ou que aceitem que seus cônjuges tenham relações extraconjugais e isto até seja filmado e propagado. É uma escolha.   
Agora, querer impor isso na política é sacanagem. Sentir prazer em ser chicoteado por uma Ditadura não é algo que deva ser universalizado como modelo de Estado. Quê isso minha gente? Por isso acredito que todo fanático, seja religioso, político ou esportivo, caminha de braços dados com o masoquismo, que é também uma maneira de exterminar a própria personalidade, que de tão insuportável a si mesma imagina que os outros também o são e logo não vê problemas em tomar na ‘cabeça’. Vá de retro, Satanás! 
Em suma, como diriam os patéticos professores de redação dos cursinhos, para o fanático religioso, Deus é um vingador que sente prazer em exterminar. Logo um sádico. Eu já disse que concepções teológicas baixas, com baixos teores racionais e medíocres, transformam Deus num anão e/ou num ser patético. Assim os fanáticos neopentecostais, carismáticos e derivados são uma mescla de sadomasoquismo.  PQP! Vamos evoluir minha gente, vamos evoluir! Deus, se existe, é um ser livre.